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Curso de Língua Portuguesa
Módulo 2
Aula 17 - Tipologia Textual - parte 2

Tipologia Textual

Prezado(a) cursista, nesta aula daremos continuidade de nossas aulas de tipologia textual.

Ancora 1
Conteúdo da Aula

                                TIPOLOGIA TEXTUAL

                             GÊNEROS DO TIPO ARGUMENTATIVO

 

   Os discursos argumentativos, persuasivos podem se organizar em diferentes gêneros, nas mais variadas linguagens. Vamos ver alguns deles.

    Editorial

  Os editoriais são textos jornalísticos, publicados em jornais ou revistas, cujo conteúdo expressa a opinião da empresa, da direção ou da equipe de redação, sem a obrigação de se submeter a nenhuma imparcialidade ou objetividade. É comum grandes jornais reservarem um espaço para os editoriais em duas ou mais colunas, sempre nas primeiras páginas internas. Os boxes (quadros) dos editoriais são normalmente demarcados com uma borda ou tipologia diferente para ressaltar claramente que aquele texto é opinativo e não informativo, como a maioria dos demais textos jornalísticos. Editoriais maiores e mais analíticos são chamados de artigos de fundo.

   Normalmente os editorialistas assinam o ediorial, mas, na chamada "grande imprensa", os editoriais são apócrifos, isto é, nunca são assinados por ninguém em particular.

Exemplos:

Artigo de opinião 

   É um texto do tipo dissertativo-argumentativo em que o escritor, além de expor seu ponto de vista, apresenta argumentos sobre determinado assunto. As ideias defendidas no artigo de opinião são de total responsabilidade do autor, cuja assinatura deve constar no artigo. É ele quem opina e que tenta convencer o leitor a adotar a opinião apresentada. Sendo assim, é comum observarmos nesse tipo de texto apelo emotivo, humor, ironia e descrições detalhadas.

   Trata-se de um texto pequeno de leitura breve e simples, e a linguagem é simples também, sem rebuscamento, uma vez que a intenção é atingir os variados leitores de um jornal ou de uma revista. No geral, o texto é escrito em primeira pessoa, uma vez que se trata de uma opinião pessoal, que é cheia de subjetividade por natureza, porém pode ocorrer em terceira pessoa.

Exemplo:

A obra de Túlio Piva poderia ser objeto de estudo nos bancos escolares, ao lado de Noel, Ataulfo e Lupicínio. Se o criador optou por permanecer em sua querência Ï Santiago, e depois Porto Alegre, a obra alçou voos mais altos, com passagens na Rússia, Estados Unidos e Venezuela. Tem que ter mulata, seu samba maior, é coisa de craque. Um retrato feito de ritmo e poesia, uma ode ao gênero que amou desde sempre. E o paradoxo: misto de gaúcho e italiano, nascido na fronteira com a Argentina, falando de samba, morro e mulata, com categoria. E que categoria! Uma batida de violão que fez história.

O tango transmudado em samba.

                 RAMIREZ, H.; PIVA, R. (Org.). Túlio Piva: pra ser samba brasileiro. Porto Alegre: Programa Petrobras Cultural. 2005 (adaptado).      

 

   PARA ILUSTRAR

   O texto é um trecho da crítica musical sobre a obra de Túlio Piva. Para enfatizar a qualidade do artista, usou-se como recurso argumentativo o(a)

a) contraste entre o local de nascimento e a escolha pelo gênero samba.

b) exemplo de temáticas gaúchas abordadas nas letras de sambas.

c) alusão a gêneros musicais brasileiros e argentinos.

d) comparação entre sambistas de diferentes regiões.

e) aproximação entre a cultura brasileira e a argentina.

   Comentário: a questão testou o conhecimento do candidato quanto ao texto opinativo, argumentativo. A crítica musical é um gênero argumentativo.

   Segundo o autor da crítica, há um paradoxo na história de Túlio Piva que consiste no tipo de música escolhida pelo músico: o samba. Isso porque ele nasceu na divisa entre Argentina e Brasil, onde o ritmos do folclore sulista prevalece.

GABARITO: A

     Carta de leitor

   Os leitores de jornais e revistas têm um espaço nesses veículos de comunicação que é reservado para suas sugestões, críticas, opiniões e reclamações, chamado Carta do leitor (ou Carta de leitor).

   Trata-se de um pequeno texto em que o leitor de um periódico se expressa a respeito de reportagens de edições anteriores.

   Em um texto desse tipo deve constar a especificação do assunto, o objetivo da carta e o destinatário. A linguagem pode ser formal ou informal dependendo do objetivo. Se é uma crítica, normalmente a linguagem é mais formal, se elogio ou sugestão, costuma ocorrer uma linguagem menos formal. Não há, porém, um modelo específico, já que o espaço reservado para a carta é padronizado pelo veículo de comunicação.

Exemplos:

TIPOS DE CARTAS 

   Para que um texto seja considerado carta (de maneira padrão), é preciso que apresente as seguintes partes:

- Local e Data;

- Destinatário;

- Saudação;

- Interlocução com o destinatário (desenvolvimento do assunto); - Despedida.

   Lembrando que os esses itens estão na ordem em que devem aparecer na carta. A carta logo nos remete a algo pessoal. Antigamente, quando a internet não existia, as cartas eram muito mais comuns. Chamadas de cartas familiares, elas contavam coisas sobre a vida pessoal e serviam como entretenimento! Hoje elas são usadas com objetivos específicos, como vamos ver a seguir.

   A carta argumentativa

 

   Especialmente em concursos públicos, há um tipo de carta preferido: a carta argumentativa. Falarei um pouco mais sobre ela para que você consiga identifica-la facilmente.

   Como o próprio nome diz, são ARGUMENTATIVAS, devem sustentar uma tese e defendê-la, de modo a persuadir seu interlocutor a concordar com os argumentos utilizados. É um texto de opinião que utiliza a estrutura de uma carta, ou seja, deve obedecer às mesmas características das outras cartas, as quais já foram citadas. 

   Detalhe importante: não é porque a carta tende a ser um texto mais "leve" no que tangue ao uso da norma culta que isso deverá acontecer na carta argumentativa. Ela deve obedecer, assim como os demais textos, às regras de sintaxe, paragrafação, grafia, concordância, regência (nominal e verbal), colocação pronominal, pontuação e regras de coerência e coesão.

   O que diferencia a carta argumentativa das demais cartas é o compromisso que ela assume com o convencimento do interlocutor, e o que a diferencia de uma simples dissertação argumentativa é que esta é dirigida a um interlocutor universal, enquanto a carta é dirigida a um interlocutor previamente especificado. Este fato torna mais fácil o processo de argumentação, já que eu conheço o leitor da minha carta, e assim posso prever os questionamentos e interesses possivelmente vindos dele.

   Convite

  O convite é um tipo de carta que pode ser extremamente formal ou muitíssimo íntimo. Algumas informações são importantes aqui: local, data e hora para o evento para o qual o interlocutor está sendo convidado. O objetivo do convite é bem específico, embora não tenha a intenção clara de persuadir, é de interesse do emissor que o receptor da carta aceite o convite.

   Existe um tipo de carta que vem normalmente ligada ao convite: a carta de agradecimento. Para aceitar ou para recusar o convite, esse tipo de carta é uma maneira cortês de se fazer isso. Especialmente se a carta de agradecimento for para recusar um convite, é muito importante expor com detalhes todos os motivos da recusa. Assim, a cortesia fica completa e de bom tom.

(observação)quadro da pagina:23 de 123 carta comercial este que fiz.

   Carta Comercial

   Também chamada de carta empresarial, é utilizada pelas empresas em geral, sejam elas atuantes no comércio, setor bancário, na indústria, setor de serviços, entre outros segmentos. Com relação ao conteúdo, tal modalidade pode ser definida por distintas intenções, tais como o agradecimento por um serviço prestado, solicitação de um determinado orçamento, cobrança na melhoria dos serviços prestados, cobrança financeira, entre outras.

Partes que compõem uma carta comercial:

1. Timbre ou cabeçalho;

2. Local e data;

3. Índice e número (sendo esta parte opcional);

4. Identificação do destinatário;

5. Epígrafe ou ementa (a qual revela o assunto referente à carta), também se consolidando como parte opcional;

6. Vocativo;

7.Texto;

8. Despedida;

9. Assinatura.

    A charge

  A charge é um tipo de texto que apresenta, normalmente, linguagem mista (palavras e imagens), além de um discurso humorístico. Está presente em revistas e principalmente em jornais. São desenhos elaborados por cartunistas que captam de maneira perspicaz as diversas situações do cotidiano, transpondo para o desenho algum tipo de crítica ou opinião, geralmente permeada por fina ironia.

   Mas a charge é um texto de opinião? Sim! Não é por acaso que elas são normalmente publicadas em meio a artigos de opinião, editoriais e cartas de leitores. Também não é por acaso que cada vez mais as charges estejam presentes nas diversas provas de vestibulares e certames como objeto de análise.

   Ao analisarmos uma charge, podemos perceber que nela estão inscritas diversas informações construídas a partir de um interessante processo intertextual com o cotidiano, que obriga o interlocutor a fazer inferências e a construir analogias, elementos sem os quais a compreensão textual ficaria comprometida. Observe um exemplo de charge:

   Esta charge faz uma crítica tanto à desigualdade social quanto à crise na família. Observe o plano não verbal e perceba como as pessoas estão vestidas, onde estão, os cartazes na parede. A figura da mãe está sendo comparada à do Papai Noel e do Coelhinho da Páscoa como seres que não existem!

   O leitor pode até achar, em um primeiro contato, que a charge é apenas um texto engraçado e inocente, mas não é bem assim! Basta uma leitura mais cuidadosa para percebermos que estamos diante de um gênero textual riquíssimo, que critica personalidades, política, sociedade, entre outros temas relevantes.

   Seu principal objetivo é estabelecer uma opinião crítica e, através dos elementos visuais e verbais, persuadir o leitor, influenciando-o ideologicamente.

Exemplos:

Texto publicitário

   Nos canais de rádio ou de TV, na palma da mão, em nossos celulares, ou no nosso computador, em cartazes, folders ou outdoors recebemos inúmeras mensagens publicitárias.

Veja os exemplos:

Como vimos nesses anúncios, o texto publicitário apresenta dois tipos de linguagem, a verbal e a visual (não verbal), sendo que uma serve de apoio ou reforço para a outra.

   De modo geral, a linguagem é persuasiva, direta e clara. Frequentemente são empregados verbos no modo imperativo ou no presente do indicativo, com um nível coloquial de linguagem na maioria das vezes, mas esse registro pode variar de acordo com o público que se pretende atingir, com o produto que se anuncia e o veículo utilizado.

   Por ser uma modalidade do tipo dissertativo-argumentativo, o texto publicitário apresenta argumentos para persuadir o interlocutor a consumir o produto ou a ideia veiculada.

Percebe-se também, como recursos de persuasão, o emprego de figuras de linguagem, ambiguidades, frases feitas e popularmente conhecidas, jogos de palavras, provérbios entre vários outros.

   A publicidade deve divertir, motivar, seduzir, fazer sonhar, excitar ou entusiasmar. A linguagem publicitária apela à emoção. Os textos publicitários merecem uma leitura crítica e inteligente do consumidor, para isso é importante conseguir ler nas entrelinhas, perceber o sentido implícito de uma mensagem.

ECONOMIZAR BENS DE CONSUMO E EVITAR O DESPERDÍCIO TAMBÉM E POUPAR ÁGUA.

                                                National Geographic Brasil, n. 151, out. 2012 (adaptado).

   ENEM 2016 Nessa campanha publicitária, para estimular a economia de água, o leitor é incitado a

a) adotar práticas de consumo consciente.

b) alterar hábitos de higienização pessoal e residencial.

c) contrapor-se a formas indiretas de exportação de água.

d) optar por vestuário produzido com matéria-prima reciclável.

e) conscientizar produtores rurais sobre os custos de produção.

   Comentário: a intenção da campanha é demonstrar através de dados concretos que o desperdício de água vai além do que imaginamos, promovendo uma conscientização mais ampla.

GABARITO: A

                               GÊNEROS DO TIPO NARRATIVO 

   Para que um texto seja considerado narrativo, é preciso que ele possua, antes de qualquer coisa, os elementos essenciais de uma narrativa, que são:

Exemplos de textos narrativos: contos, novelas, romances, crônicas, poemas narrativos, histórias em quadrinhos, piadas, letras musicais, entre outros.

Vamos analisar a função de cada elemento de uma narrativa:

- Personagens

   São os seres que participam da narrativa. Algumas ocupam lugar de destaque, também chamadas protagonistas, outras se opondo a elas, denominadas de antagonistas. As demais caracterizam-se como secundárias.

- Tempo

   Marcado cronologicamente, ou seja, determinado por horas e datas, revelado por acontecimentos dispostos numa ordem sequencial e linear - início, meio e fim; ou psicológico, aquele ligado às emoções e sentimentos, caracterizado pelas lembranças dos personagens, reveladas por momentos imprecisos, fundindo-se em presente, passado e futuro, o tempo retrata o momento em que ocorrem os fatos (manhã, tarde, noite, na primavera, em dia chuvoso, em um dia feliz ou triste, uma manhã de domingo, etc).

- Espaço

   É o lugar onde os fatos acontecem. Algumas vezes é apenas sugerido no intuito de aguçar a mente do leitor, outras, para caracterizar os personagens de forma contundente. Dependendo do enredo, a caracterização do mesmo torna-se de fundamental importância, como, por exemplo, os romances regionalistas.

- Narrador

   Tecnicamente, podemos dizer que pode-se narrar algo de maneiras diferentes. O ponto de vista de quem nada pode mudar. Geralmente, se resumem em três possibilidades:

a) Narrador-observador:

* Ele revela ao leitor somente os fatos que consegue observar.

* Usa a 3ª pessoa.

* Não é personagem, não participa da história.

* Embora não seja personagem da história, sua visão é limitada àquilo que consegue observar.

b) Narrador-onisciente:

* o narrador não apenas observa, mas conhece TUDO sobre a história, até o pensamento dos personagens.

* Usa a 3ª pessoa.

* Não é personagem, não participa da história.

* Sua visão é multilateral, conhece todos os lados da história.

* Algumas vezes limita-se a observar os fatos de forma objetiva, em outras, emite opiniões e julgamento de valor acerca do assunto.

c) narrador-personagem:

* A narrador é também personagem (principal ou secundária) da história narrada.

* Usa a 1ª pessoa.

* Possui uma visão limitada dos fatos, pois está vendo sob o seu ponto de vista.

- Enredo

   É o conjunto de fatos que constituem a ação da narrativa.

  Todo enredo é composto por um conflito vivido por um ou mais personagens, cujo foco principal é prender a atenção do leitor por meio de um clima de tensão que se organiza em torno dos fatos e os faz avançar. Geralmente, o conflito determina as partes do enredo, representadas pelas referidas partes:

* Introdução - É o começo da história, no qual se apresentam os fatos iniciais, os personagens, e, às vezes, o tempo e o espaço.

* Complicação - É a parte em que se desenvolve o conflito.

* Clímax - Figura-se como o ponto culminante de toda a trama, revelado pelo momento de maior tensão. É a parte em que o conflito atinge seu ápice.

* Conclusão ou desfecho final - É a solução do conflito instaurado, podendo apresentar final trágico, cômico, triste, ou até mesmo surpreendente.

Tudo irá depender da decisão imposta pelo narrador.

   Agora vamos especificar características de alguns dos gêneros mais importantes.

   A notícia

   Notícia é o relato de um fato novo, que desperta o interesse do público alvo do jornal. É um gênero textual tipicamente jornalístico e pode ser veiculado em jornais, escritos e falados, e em revistas.

   Na notícia, predomina a narração e muitas vezes há trechos de descrição. Ela apresenta uma estrutura própria e fixa, composta de duas partes: o lead e o corpo.

  Lead é um resumo do fato em poucas linhas e compreende, normalmente, o primeiro parágrafo da notícia. Contém as informações mais importantes, que fornecem ao leitor a maior parte das respostas às seis perguntas básicas: o quê, quem, quando, onde, como e por que (representam os elementos da narrativa).

   Corpo são os demais parágrafos da notícia, nos quais se faz o detalhamento do exposto no lead por meio da apresentação ao leitor de novas informações, em ordem cronológica ou de importância.

 Características

* Predomínio da narração, com a presença dos elementos essenciais de um texto narrativo: fatos, pessoas envolvidas, tempo e lugar em que ocorreu o fato, como e porque aconteceu;

* estrutura padrão composta de lead e corpo;

* título simples, pequeno, mas chamativo;

* linguagem impessoal, clara, precisa, objetiva, direta, de acordo com a variedade padrão da língua.

* discurso: jornalístico.

   Veja um exemplo de notícia:

   MOVIMENTOS PODEM VOLTAR A PROTESTAR NO PALÁCIO DOS BANDEIRANTES POR ANTIGO ACORDO

   Aproximadamente 5 mil pessoas marcharam nesta quarta até a sede do governo de São Paulo para cobrar compromisso de 2013 para a construção de 10 mil unidades habitacionais

                                                                                   Por Redação RBA publicado 05/03/2015 16:32, última modificação 05/03/2015 17:33

No prazo de um mês, movimentos esperam ser recebidos pelo governo de Geraldo Alckmin

   São Paulo - O advogado Benedito Barbosa, o Dito, do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, e um dos coordenadores da União dos Movimentos de Moradia (UMM), afirmou que o governo de São Paulo se comprometeu a discutir em no máximo 30 dias o compromisso firmado em 2013 prevendo a construção de 10 mil unidades habitacionais, em parceria com associações de moradores. A promessa teria sido feita pelo secretário-adjunto da Casa Civil, Fabrício Cobra, ontem (4), depois de protesto realizado em frente ao Palácio dos Bandeirantes para cobrar o cumprimento do acordo.

   Em entrevista hoje (5) à Rádio Brasil Atual, Dito afirmou que nenhuma unidade foi construída, e que outro acordo para a construção de moradias em regime de mutirão, firmado há mais de dez anos, também não saiu do papel.

   "Nós organizamos um acampamento na porta do Palácio, queríamos ficar lá acampados, mas o secretário pediu que desmontássemos o acampamento, dizendo que o governador receberia o movimento, e que iriam cumprir, de fato, as promessas."

   Caso o acordo não se cumpra no prazo de 30 dias, o movimento promete acampar novamente, em frente ao Palácio, e fazer novas ocupações.

   Dito lembrou que o déficit habitacional no estado é de cerca de 1,5 milhão de famílias. Só na capital, 3 milhões de pessoas vivem em loteamentos irregulares, 1 milhão, em cortiços ou moradias precárias, e 15 mil moram nas ruas.

   Os manifestantes reclamaram, ainda, da falta d'água em comunidades da periferia e da falta de medição individual do consumo nos conjuntos habitacionais construídos pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).

   A crônica

 

  A crônica surgiu no Brasil há uns 150 anos, com o Romantismo e o desenvolvimento da imprensa. Inicialmente chamado de folhetim, era um artigo de rodapé escrito sobre assuntos do dia - políticos, sociais, artísticos, literários. Com o passar do tempo, foi se tornando um texto mais curto e se afastando da finalidade de informar e comentar, sendo substituída pela intenção de apresentar os fatos cotidianos de forma artística e pessoal. A linguagem tornou-se mais poética ao mesmo tempo que ganhou certa gratuidade, em razão da ausência de vínculos com interesses práticos e com as informações presentes nas demais partes de um jornal.

  A crônica é o resultado da visão pessoal subjetiva do cronista com relação a um fato qualquer, que pode ter sido colhido no noticiário do jornal ou no cotidiano. Quase sempre explora o humor; às vezes, diz as coisas mais sérias por meio de uma aparente conversa fiada; outras vezes, despretensiosamente, engrandece o valor das coisas mais banais e insignificantes.

   O discurso de uma crônica é jornalístico devido ao meio no qual é publicada e literário devido ao estilo aplicado ao texto.

Características

* Texto curto;

* linguagem descontraída, simples, coloquial, próxima do leitor;

* espaço e tempo limitados por ser um texto curto;

* admite narrador em 1ª e em 3ª pessoa;

* discurso literário e jornalístico (texto hibrido).

   Atenção:

  É comum também haver crônicas cujo narrador se ausenta; nesse caso, toda a crônica se estrutura no discurso direto de duas ou mais personagens, como veremos a seguir:

   Na escuridão miserável

   Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava enquanto punha o motor em movimento. Voltei-me e dei com uns olhos grandes e parados como os de um bicho, a me espiar através do vidro da janela junto ao meio-fio. Eram de uma negrinha mirrada, raquítica, um fiapo de gente encostado ao poste como um animalzinho, não teria mais que uns sete anos. Inclinei-me sobre o banco, abaixando o vidro:

- O que foi, minha filha? - perguntei, naturalmente, pensando tratar-se de esmola.

- Nada não senhor - respondeu-me, a medo, um fio de voz infantil.

- O que é que você está me olhando aí?

- Nada não senhor - repetiu. - Tou esperando o ônibus...

Onde é que você mora?

- Na Praia do Pinto.

- Vou para aquele lado. Quer uma carona?

Ela vacilou, intimidada. Insisti, abrindo a porta:

- Entra aí, que eu te levo.

Acabou entrando, sentou-se na pontinha do banco, e enquanto o carro ganhava velocidade ia olhando duro para a frente, não ousava fazer o menor movimento. Tentei puxar conversa:

- Como é o seu nome?

- Teresa.

- Quantos anos você tem, Teresa?

- Dez.

- E o que estava fazendo ali, tão longe de casa?

- A casa da minha patroa é ali.

- Patroa? Que patroa?

Pela sua resposta, pude entender que trabalhava na casa de uma família no Jardim Botânico: lavava roupa, varria a casa, servia a mesa. Entrava às sete da manhã, saía às oito da noite.

Hoje saí mais cedo. Foi 'jantarado'.

- Você já jantou?

Não. Eu almocei.

- Você não almoça todo dia?

- Quando tem comida pra levar de casa eu almoço: mamãe faz um embrulho de comida pra mim.

- E quando não tem?

- Quando não tem, não tem - e ela até parecia sorrir, me olhando pela primeira vez. Na penumbra do carro, suas feições de criança, esquálidas, encardidas de pobreza, podiam ser as de uma velha. Eu não me continha mais de aflição, pensando nos meus filhos bem nutridos - um engasgo na garganta me afogava no que os homens experimentados chamam de sentimentalismo burguês.

- Mas não te dão comida lá? - perguntei revoltado.

- Quando eu peço, eles dão. Mas descontam no ordenado. Mamãe disse pra eu não pedir.

- E quanto é que você ganha?

Diminuí a marcha, assombrado, quase parei o carro! Ela mencionara uma importância ridícula, uma ninharia, não mais que alguns trocados. Meu impulso era voltar, bater na porta da tal mulher e meter-lhe a mão na cara.

- Como é que você foi parar na casa dessa... foi parar nessa casa? - perguntei ainda, enquanto o carro, ao fim de uma rua do Leblon, se aproximava das vielas da Praia do Pinto. Ela disparou a falar:

- Eu estava na feira com mamãe e então a madame pediu para eu carregar as compras. E aí no outro dia pediu a mamãe pra eu trabalhar na casa dela, então mamãe deixou porque mamãe não pode deixar os filhos todos sozinhos e lá em casa é sete meninos fora dois grandes que já são soldados. Pode parar que é aqui moço, obrigado.

   Mal detive o carro, ela abriu a porta e saltou, saiu correndo, perdeu-se logo na escuridão miserável da Praia do Pinto...

                                                                          (Fernando Sabino, p. 135-7)

Âncora 2

Questões Propostas:

1) Os quadrinhos exemplificam que as Histórias em Quadrinhos constituem um gênero textual:

a) em que a imagem pouco contribui para facilitar a interpretação da mensagem contida no texto, como pode ser constatado no primeiro quadrinho.
b) cuja linguagem se caracteriza por ser rápida e clara, que facilita a compreensão, como se percebe na fala do segundo quadrinho.
c) em que o uso de letras com espessuras diversas está ligado a sentimentos expressos pelos personagens, como pode ser percebido no último quadrinho.
d) que possui em seu texto escrito características próximas a uma conversação face a face, como pode ser percebido no segundo quadrinho.
e) em que a localização casual dos balões nos quadrinhos expressa com clareza a sucessão cronológica da história, como pode ser percebido no segundo quadrinho.

 

Canção do vento e da minha vida

O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
[...]

O vento varria os sonhos
E varria as amizades...
O vento varria as mulheres...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.

BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.

 

2) Na estruturação do texto, destaca-se

a) a construção de oposições semânticas.
b) a apresentação de ideias de forma objetiva.
c) o emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo.
d) a repetição de sons e de construções sintáticas semelhantes.
e) a inversão da ordem sintática das palavras.

Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que frequentou o autodidata Machado de Assis.

3) Considerando os seus conhecimentos sobre os gêneros textuais, o texto citado constitui-se de:

a) fatos ficcionais, relacionados a outros de caráter realista, relativos à vida de um renomado escritor.
b) representações generalizadas acerca da vida de membros da sociedade por seus trabalhos e vida cotidiana.
c) explicações da vida de um renomado escritor, com estrutura argumentativa, destacando como tema seus principais feitos.
d) questões controversas e fatos diversos da vida de personalidade histórica, ressaltando sua intimidade familiar em detrimento de seus feitos públicos.
e) apresentação da vida de uma personalidade, organizada sobretudo pela ordem tipológica da narração, com um estilo marcado por linguagem objetiva.

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