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SUMÁRIO
Organização da Administração Pública
Centralização, descentralização e desconcentração
Administração Direta
Composição
Órgãos públicos
Administração Indireta
Características gerais
Autarquias
Fundações Públicas
Empresas públicas e sociedades de economia mista
ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Toda a atividade administrativa do Estado se desenvolve, direta ou indiretamente, por meio da atuação de órgãos, entidades públicas e seus respectivos agentes.
Nos termos da Lei 9.784/1999:
-
Entidade: a unidade de atuação dotada de personalidade jurídica.
-
Órgão: a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração indireta.
Em suma, a diferença básica entre órgão e entidade é que esta possui personalidade jurídica própria e aquele não. Mas vamos desenvolver mais os conceitos.
Entidade é pessoa jurídica, pública ou privada; o conceito compreende tanto as entidades políticas, que possuem autonomia política, isto é, capacidade de legislar e se auto-organizar (são pessoas políticas a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios), como as entidades administrativas, que não possuem autonomia política, ou seja, não podem legislar, limitando-se a executar as leis editadas pelas pessoas políticas; conquanto não tenham autonomia política, as entidades administrativas detêm autonomia administrativa, isto é, capacidade de gerir os próprios negócios, porém sempre se subordinando às leis postas pela entidade política (são entidades administrativas as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas e as sociedades de economia mista).
Órgão é elemento despersonalizado, isto é, sem personalidade jurídica, incumbido da realização das atividades da entidade a que pertence, através de seus agentes. São "centros de competência" constituídos na estrutura interna de determinada entidade política ou administrativa (ex: Ministérios do Poder Executivo Federal, Secretarias de Estado, departamentos ou seções de empresas públicas etc.).
1. (Cespe - CNJ ) As entidades políticas são pessoas jurídicas de direito público interno, como a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios. Já as entidades administrativas integram a administração pública, mas não têm autonomia política, como as autarquias e as fundações públicas.
Comentário: A questão está correta. A principal diferença entre entidades políticas (União, Estados, DF e municípios) e entidades administrativas integrantes da Administração Indireta é a autonomia política, vale dizer, a capacidade de legislar, característica exclusiva das entidades políticas.
Gabarito: Certo
2. (Cespe - MIN ) As entidades que integram a administração direta e indireta do governo detêm autonomia política, administrativa e financeira.
Comentário: Apenas as entidades políticas (União, Estados, DF e Municípios) detém autonomia política, isto é, capacidade de legislar, de inovar no direito. As entidades administrativas, integrantes da administração indireta, possuem apenas autonomia administrativa, operacional e financeira, daí o erro.
Gabarito: Errado
3. (ESAF - CVM ) Assinale a opção que contemple a distinção essencial entre as entidades políticas e as entidades administrativas.
a) Personalidade jurídica.
b) Pertencimento à Administração Pública.
c) Autonomia administrativa.
d) Competência legislativa.
e) Vinculação ao atendimento do interesse público.
Comentários: A distinção essencial entre as entidades políticas e as entidades administrativas reside na competência legislativa (opção "d"). Apenas as entidades políticas a possuem. As entidades administrativas, por sua vez, se limitam a agir nos limites estabelecidos pelas leis emitidas pelas pessoas políticas. Quanto às demais alternativas, todas representam características comuns às entidades políticas e administrativas, quais sejam, personalidade jurídica, pertencimento à Administração Pública, autonomia administrativa e vinculação ao atendimento do interesse público.
Gabarito: alternativa "d"
Para o desempenho de suas atribuições, a Administração Pública organiza seus órgãos e entidades com base em três princípios fundamentais: centralização, descentralização e desconcentração. Vejamos.
CENTRALIZAÇÃO, DESCENTRALIZAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO
Centralização
A centralização ocorre quando o Estado executa suas tarefas diretamente, por intermédio dos órgãos e agentes administrativos que compõem sua estrutura funcional¹. O que caracteriza a centralização, portanto, é o desempenho direto das atividades públicas pelo Estado, vale dizer, por uma das pessoas políticas (União, Estados, DF e Municípios). Esta execução centralizada de atividades públicas pelos entes federados ocorre mediante a atuação da respectiva Administração Direta, cujas características veremos adiante.
Por exemplo, ocorre centralização quando um Município, através dos servidores lotados na Secretaria de Obras, realiza um trabalho de limpeza das ruas da cidade. No caso, a pessoa jurídica responsável pela execução do serviço é o próprio Município, que executa a atividade diretamente, usando como instrumento de ação um órgão da Administração Direta.
Descentralização
Na descentralização o Estado distribui algumas de suas atribuições para outras pessoas, físicas ou jurídicas. O que caracteriza a descentralização, portanto, é o desempenho indireto de atividades públicas. Pressupõe a existência de, pelo menos, duas pessoas distintas: o Estado (a União, um Estado, o DF ou um Município) e a pessoa - física ou jurídica - que executará o serviço, por ter recebido do Estado essa atribuição.
De acordo com a doutrinadora Maria Sylvia Di Pietro, a descentralização pode ser política ou administrativa.
A descentralização política, característica dos Estados federados, ocorre na criação de entidades políticas para o exercício de competências próprias, não provenientes do ente central. É o caso, no Brasil, dos Estados e dos Municípios, entes locais que detêm competência legislativa própria, conferida diretamente pela Constituição, ou seja, tal competência é originária dos entes locais, e não mera delegação ou concessão do governo central, a União.
Fonte:
¹ Carvalho Filho (201 4, p. 457).
Já a descentralização administrativa ocorre quando determinadas atribuições definidas pelo poder central são exercidas por entidades descentralizadas. Ou seja, tais atribuições não decorrem, com força própria, da Constituição, e sim das leis editadas pelo ente central.
A descentralização administrativa ocorre, em regra, dentro de uma mesma esfera de governo: a entidade política (União, Estado, DF ou Município) transfere alguma ou algumas de suas atribuições a entidades que irão compor as suas respectivas administrações indiretas, criadas especificamente para esse fim, ou, ainda, a pessoas físicas ou jurídicas sem vínculo anterior com a Administração.
A doutrina costuma classificar a descentralização administrativa em três modalidades:
-
Descentralização por serviços, funcional, técnica ou por outorga.
-
Descentralização por colaboração ou delegação.
-
Descentralização territorial ou geográfica.
A descentralização por serviços, funcional, técnica ou por outorga se verifica quando uma entidade política (União, Estados, DF e Municípios), mediante lei, cria uma pessoa jurídica de direito público ou privado e a ela atribui a titularidade e a execução de determinado serviço público.
É o que ocorre na criação das entidades da administração indireta, quais sejam, autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas. Além dessas, os consórcios públicos, criados por entes federativos para a gestão associada de serviços públicos, também prestam serviços públicos mediante descentralização por serviços.
A criação de entidades para a outorga de serviços somente pode ser feita por lei em sentido formal. A lei pode efetivamente criar a entidade ou simplesmente autorizar a sua criação. Já a definição do campo de atuação das entidades criadas pode ser feita por meio de instrumentos normativos infralegais. Isso porque, ao criar a entidade administrativa, a lei define, ainda que de forma genérica, suas atribuições. Assim, desde que compatível com suas atribuições genéricas, a atuação da entidade pode encontrar outras fontes de legitimação, e não apenas a lei formal.
Uma vez que, na descentralização por serviços, se atribui a execução e também a titularidade do serviço, o ente que cria a entidade perde a disponibilidade sobre tal serviço, só podendo retomá-lo mediante lei. Dessa forma, o prazo da outorga geralmente é indeterminado.
Outra implicação da transferência da titularidade é que a entidade descentralizada passa a desempenhar o serviço com independência em relação à pessoa que a criou . Do contrário, não se justificaria a criação da entidade.
Assim, o controle efetuado pelo ente instituidor sobre as entidades descentralizadas por serviço deve observar os limites impostos pela lei. Tal controle, de caráter finalístico, denominado de tutela, tem por objetivo garantir que a entidade não se desvie dos fins para os quais foi instituída. Ademais, não existe subordinação entre a entidade descentralizada e a pessoa jurídica que a criou, mas tão- somente vinculação.
Por sua vez, a descentralização por colaboração ou delegação ocorre quando, por meio de contrato ou ato unilateral, o Estado transfere a execução de determinado serviço público a uma pessoa jurídica de direito privado, previamente existente, conservando o Poder Público a titularidade do serviço.
Como o próprio nome sugere, na descentralização por colaboração a entidade "colabora " com o Poder Público, executando o serviço que deveria ser por ele prestado.
É o que ocorre nas concessões, permissões ou autorizações de serviços públicos², por exemplo, quando o Estado transfere, mediante contrato, a administração de rodovias e de aeroportos para a iniciativa privada.
Na descentralização por colaboração não é necessária a edição de lei formal, bastando a formalização de um contrato (concessão ou permissão de serviços públicos) ou de um ato unilateral (autorização de serviços públicos) da Administração para que se possa transferir a responsabilidade pela execução do serviço a outra pessoa.
A delegação por contrato é sempre efetivada por prazo determinado. Já na delegação por ato administrativo, como regra, não há prazo certo, em razão da precariedade típica da autorização (possibilidade de revogação a qualquer tempo).
Nota:
² Estudaremos as características desses instrumentos de delegação de serviços públicos em aula específica.
Ressalte-se que, na descentralização por colaboração (concessão, permissão ou autorização), delega-se apenas a execução do serviço. A pessoa delegada presta o serviço em seu próprio nome e por sua conta e risco, sob a fiscalização do Estado. Porém, a titularidade do serviço permanece com o Poder Público. Isso lhe permite dispor do serviço de acordo com o interesse público, podendo alterar unilateralmente as condições de sua execução, aplicar sanções ou retomar a execução do serviço antes do prazo estabelecido.
Assim, tendo em vista que o Poder Público continua a deter a titularidade, o controle que exerce é muito mais amplo e rígido do que na descentralização por serviço, o que pode, como dito, resultar inclusive na retomada da execução do serviço a qualquer tempo. Contudo, tampouco nesse caso há hierarquia entre o Poder Público delegante e a entidade que recebeu a delegação para executar o serviço público.
Não há relação de hierarquia em nenhuma forma de descentralização.
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Por fim, a descentralização territorial ou geográfica se verifica quando uma entidade local, geograficamente delimitada, dotada de personalidade jurídica própria, de direito público, possui capacidade administrativa genérica para exercer a totalidade ou a maior parte dos encargos públicos de interesse da coletividade, funções que normalmente são exercidas pelos Municípios, como distribuição de água, luz, gás, poder de polícia, proteção à saúde, educação.
Saliente-se que a descentralização territorial permite o exercício da capacidade legislativa, porém sem autonomia, porque subordinada às normas emanadas pelo poder central.
Esse tipo de descentralização administrativa ocorre nos Estados unitários, como França e Portugal, constituídos por Departamentos, Regiões, Comunas etc. No Brasil, é o que se verificava na época do Império. Hoje, porém, só pode ocorrer na hipótese de vir a ser criado algum Território Federal³.
A doutrina costuma chamar os Territórios Federais de autarquias territoriais (ou geográficas), em razão da sua personalidade jurídica de direito público.
Porém, os Territórios diferem das autarquias porque estas possuem capacidade administrativa específica. isto é, recebem da lei competência para atuar numa área determinada (princípio da especialidade), assim como todas as demais entidades da administração indireta; já os Territórios possuem capacidade administrativa genérica. ou seja, podem atuar em diversas áreas.
Desconcentração
Quando o Estado se organiza mediante desconcentração, a entidade se desmembra em órgãos para melhorar sua organização estrutural. Trata-se de uma distribuição interna de competências, ou seja, uma distribuição ou organização de competências dentro da mesma pessoa jurídica.
O resultado concreto da desconcentração é a criação de diferentes órgãos que, como visto, são unidades administrativas desprovidas de personalidade jurídica.
Assim , diferentemente da descentralização, na qual as atividades são transferidas para outras pessoas jurídicas, a desconcentração envolve apenas uma pessoa jurídica, cujas atribuições são distribuídas entre várias unidades de competências, os órgãos públicos, uns subordinados a outros dentro de uma mesma estrutura organizacional. Os órgãos são as unidades de organização nas quais estão lotados os agentes responsáveis pela prática de atos cujos efeitos, em regra, são tidos como se praticados diretamente pela pessoa jurídica.
A desconcentração constitui mera técnica administrativa de distribuição interna de atribuições para aprimorar o desempenho. Segundo Maria Sylvia Di Pietro , isso é feito para "descongestionar, desconcentrar, tirar do centro um volume grande de atribuições, para permitir seu mais adequado e racional desempenho".
Nota:
³ CF, art. 18, §22: "Os Territórios Fede rais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar".
Para explicar a desconcentração, normalmente se faz uma analogia com o corpo humano, no qual os órgãos (coração, pulmão, cérebro, etc.) não têm vida pró pria, mas desempenham as funções necessárias ao funcionamento do corpo. Quem possui vida e personalidade é a pessoa, ou seja, o indivíduo, não os órgãos.
De maneira semelhante, os órgãos administrativos não têm personalidade. Eles apenas dão forma às competências das entidades que, como os indivíduos, são pessoas Uurídicas) portadoras de personalidade, capazes de adquirir direitos e obrigações.
Detalhe importante é que a desconcentração pode ocorrer tanto dentro de uma pessoa política como dentro de uma entidade administrativa, vale dizer, tanto no âmbito da administração direta ou centralizada como na administração indireta ou descentralizada.
Por exemplo, ocorre desconcentração quando:
I) a União distribui competências entre diversos órgãos da sua própria estrutura, tais quais os ministérios (Ministério da Educação, Ministério dos Transportes, Ministério da Saúde etc.);
II) um Ministério cria unidades internas (órgãos) para melhor distribuir suas funções (por exemplo, na estrutura do MEC existem as Secretarias de Educação Básica, de Educação Superior, de Educação Profissional e Tecnológica etc.);
III) uma Universidade Pública, constituída na forma de autarquia, cria departamentos especializados (órgãos) nas diversas áreas de atuação (departamento de graduação, departamento de pós-graduação, departamento de Direito, departamento de Economia etc.);
IV) o Banco do Brasil, uma sociedade de economia mista, organiza sua estrutura interna em vice-presidências, superintendências regionais, diretorias etc. (órgãos), a fim de melhor desempenhar suas funções.
Como se vê, nos dois primeiros casos temos exemplos de desconcentração na administração direta (pessoa jurídica União) e, nos dois últimos, na administração indireta (pessoas jurídicas Universidade e Banco do Brasil).
A desconcentração faz surgir relação de hierarquia, vale dizer, de subordinação entre os órgãos dela resultantes. Assim, os órgãos localizados na parte superior da estrutura exercem o chamado controle hierárquico sobre os órgãos localizados na parte inferior. Esse controle compreende os poderes de comando, fiscalização, revisão, punição, solução de conflitos de competência, delegação e avocação 4.
Na desconcentração há hierarquia entre os órgãos resultantes.
Saliente-se que somente existe poder hierárquico no âmbito dos órgãos que desempenham funções administrativas (típicas ou atípicas). Não existe hierarquia no desempenho das funções legislativa e judiciária, pois os agentes públicos competentes para exercerem tipicamente tais funções ( deputados, senadores, vereadores, juízes, desembargadores etc.) gozam de prerrogativas de independência funcional, decidindo apenas de acordo com a própria consciência. No âmbito dos órgãos que compõem os Poderes Legislativo e Judiciário, somente haverá hierarquia quando estiverem exercendo função administrativa (atípica). Assim, por exemplo, os juízes de instância superior não são superiores hierárquicos dos de instância inferior.
A desconcentração pode ser classificada em:
-
Desconcentração em razão da matéria (ex: Ministério da Saúde, da Educação et c.) ;
-
Desconcentração em razão do grau ou da hierarquia (ex: ministérios, secretarias, superintendências, delegacias etc.);
-
Desconcentra ção pelo critério territorial (ex: Superintendência da Receita Federal em São Paulo, no Rio Grande do Sul etc.).
Os processos de descentralização e de desconcentração têm fisionomia ampliativa, pois importam na repartição de atribuições, respectivamente, a outra pessoa jurídica ou a órgãos internos. Porém, o Estado também pode atuar em sentido inverso, ou seja, de forma restritiva. Nessas hipóteses, surgirão a centralização e a concentração. A centralização ocorre quando o Estado retoma a execução do serviço, depois de ter transferido sua execução a outra pessoa, passando, em consequência, a prestá-lo diretamente; Já na concentração, dois ou mais órgãos internos são agrupados em apenas um, que passa a ter natureza de órgão concentrador.
Fonte:
4 Alexandrino, M. Paulo, V. (2014, p. 27).
4. (Cespe - TJDFT ) A criação, por uma universidade federal, de um departamento específico para cursos de pós-graduação é exemplo de descentralização.
Comentário: A criação, por uma universidade federal, de um departamento específico para cursos de pós-graduação é uma maneira de melhor distribuir internamente suas competências institucionais, visando ao melhorar seu desempenho. O departamento criado não possui personalidade jurídica própria, sendo vinculado hierarquicamente aos órgãos superiores da universidade. Temos, assim, apenas uma pessoa jurídica, a universidade, a distribuir internamente suas competências. Portanto, estamos diante de um exemplo de desconcentração, e não de descentralização, daí o erro.
Gabarito: Errado
5. (Cespe - TJDFT ) Quando o Estado cria uma entidade e a ela transfere, por lei, determinado serviço público, ocorre a descentralização por meio de outorga.
Comentário: O quesito está correto. A descentralização por meio de outorga é sinônimo de descentralização por serviços, funcional ou técnica. Ocorre quando uma entidade política (União, Estados, DF e Municípios), mediante lei, cria uma pessoa jurídica de direito público ou privado e a ela atribui a titularidade e a execução de determinado serviço público. Contrapõe-se, portanto, à descentralização por colaboração ou por delegação,em que, por meio de contrato ou ato unilateral, o Estado transfere apenas a execução de determinado serviço público a uma pessoa jurídica de direito privado, previamente existente, conservando o Poder Público a titularidade do serviço.
Gabarito: Certo
6. (Cespe - SUFRAMA ) Desconcentração administrativa é a distribuição de competências entre órgãos de uma mesma pessoa jurídica.
Comentário: Afirmação correta. Lembrando que a desconcentração envolve apenas uma pessoa jurídica, ao contrário da descentralização, que envolve mais de uma.
Gabarito: Certo
7. (Cespe - MPU ) A transferência pelo poder público, por meio de contrato ou ato administrativo unilateral, apenas da execução de determinado serviço público a pessoa jurídica de direito privado corresponde à descentralização por serviços, também denominada descentralização técnica.
Comentário: A questão está errada, pois apresenta a definição correspondente à descentralização por colaboração ou por delegação. A descentralização por serviços, também denominada descentralização técnica ou funcional, pressupõe a criação , mediante lei, de uma pessoa jurídica de direito público ou privado, à qual se atribui a titularidade e a execução de determinado serviço público, e não apenas a execução.
Gabarito: Errado
8. (Cespe - AFRE/ES) Em determinada secretaria de governo, as ações voltadas ao desenvolvimento de planos para capacitação dos servidores eram realizadas de forma esporádica, inexistindo setor específico para tal finalidade. A fim de dar maior concretude a uma política de prestação de serviço público de qualidade naquela secretaria, criou-se um departamento de capacitação dos servidores. Nessa situação hipotética, a criação do referido departamento é considerada
a) desconcentração administrativa.
b) centralização administrativa.
c) descentralização administrativa.
d) medida gerencial interna.
e) concentração administrativa.
Comentários: O comando da questão apresenta um exemplo claro de desconcentração administrativa, pois foi criado um departamento no âmbito da estrutura organizacional de determinada secretaria de governo, com a finalidade de exercer uma atividade específica. Trata-se de mera distribuição interna de competências, que não envolveu a criação de outra pessoa jurídica ou a transferência da atribuição para outra entidade previamente existente. Pelo contrário, foi criado um novo órgão, o departamento de capacitação de servidores, desprovido de personalidade jurídica e subordinado hierarquicamente à aludida secretaria de governo.
Gabarito: alternativa "a"
9. (ESAF - AFRFB ) Considere que o Poder Público conserve a titularidade de determinado serviço público a que tenha transferido a execução à pessoa jurídica de direito privado. Nessa situação, a descentralização é denominada:
a) por colaboração.
b) funcional.
c) técnica.
d) geográfica.
e) por serviços.
Comentários: A descentralização em que o Poder Público transfere a execução, mas não a titularidade, de determinado serviço público a pessoa jurídica de direito privado é denominada por colaboração (alternativa " a" - gabarito). Exemplo clássico são as concessões de serviços públicos.
Ao contrário, na descentralização por serviços (opção "e") o Poder Público transfere a execução e a titularidade do serviço. É o caso da criação de autarquias e fundações públicas. Descentralização funcional (opção "b" ) e descentralização técnica (opção "c") são sinônimos de descentralização por serviços.
Já a descentralização geográfica (opção " d") ocorre quando a pessoa política atribui competências genencas a determinada entidade geograficamente delimitada, a exemplo da criação de Territórios Federais.
Gabarito: alternativa "a"
Os princípios da centralização, desconcentração e descentralização balizam a divisão da Administração em direta e indireta. Vamos prosseguir.
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Administração Direta é o conjunto de órgãos que integram as pessoas políticas do Estado (União, Estados , DF e Municípios), aos quais foi atribuída a competência para o exercício de atividades administrativas, de forma centralizada. Em outras palavras, na administração direta " a Administração Pública é, ao mesmo tempo, a titular e a executora do serviço público 5 " .
O princípio da centralização é inerente à Administração Direta. Com efeito, as pessoas políticas União, Estados, DF e Municípios executam, por si próprias, diversas tarefas internas e externas. Para tanto, se valem de seus inúmeros órgãos internos, dotados de competência própria e específica e constituídos por servidores públicos, que representam o elemento humano dos órgãos.
Quando o Estado executa tarefas diretamente, através de seus órgãos internos, estamos diante da Administração Direta no desempenho de atividade centralizada.
COMPOSIÇÃO
Na esfera federal, a Administração Direta do Poder Executivo é composta pela Presidência da República e pelos Ministérios.
A Presidência da República é o órgão superior do Executivo, onde se situa o Presidente da República como Chefe da Administração (CF, art . 84, II). Nela se agregam ainda vários órgãos tidos como essenciais (ex : Casa Civil ) , de assessoramento imediato (ex: Advocacia-Geral da União) e de consulta (Conselho da República e Conselho de Defesa Nacional).
Já os Ministérios são os órgãos encarregados da execução da função administrativa, cada qual numa área específica (Ministério da Saúde, da Justiça, dos Transportes, da Educação etc.). Na estrutura interna de cada Ministério existem ainda centenas de outros órgãos, como as secretarias, conselhos, departamentos, entre outros. Cabe aos Ministros auxiliar o Presidente da República na direção da Administração (CF, art. 84, II).
Fonte:
5 Carvalho Filho (2014, p. 459)
Por sua vez, os Poderes Legislativo e Judiciário adotam a estrutura definida em seus respectivos atos de organização administrativa. Ambos os Poderes possuem capacidade de se auto-organizar, podendo elaborar seus próprios regimentos internos 6.
Nas esferas estadual e municipal, a organização da Administração Direta é semelhante à federal. Governadores, Prefeitos, Secretarias Estaduais e Municipais, além de vários outros órgãos internos, compõem o respectivo Poder Executivo . A mesma simetria se aplica ao Legislativo e ao Judiciário. Lembrando, porém, que Município não possui Judiciário, apenas Legislativo (Câmara Municipal).
ÓRGÃOS PÚBLICOS
Como visto, os órgãos públicos são centros de competência instituídos para o desempenho de funções estatais. São unidades de ação com atribuições específicas na organização do Estado.
O Estado é uma pessoa jurídica. Diferentemente das pessoas físicas, as pessoas jurídicas não possuem vontade própria: elas precisam de alguém para atuar em seu nome. No caso do Estado, esse "alguém" são as pessoas físicas que integram seus órgãos, os agentes públicos.
Diversas teorias surgiram para explicar as relações do Estado com seus agentes. Vejamos.
Primeiramente se entendeu que os agentes eram mandatários do Estado. É a chamada teoria do mandato. Tal ideia não vingou porque não explicava como o Estado, que não tem vontade própria, poderia outorgar o mandato.
Passou-se , então, a adotar a teoria da representação, pela qual os agentes eram representantes do Estado, equiparando o agente à figura do tutor ou curador das pessoas incapazes. A teoria também foi criticada; primeiro por equiparar o Estado ao incapaz que, ao contrário do Estado, não possui capacidade para designar representante para si mesmo; e segundo porque, da mesma forma que a teoria anterior, permitia ao mandatário ou ao representante ultrapassar os poderes da representação sem que o Estado respondesse por esses atos perante terceiros prejudicados.
Finalmente, foi instituída a teoria do órgão, hoje amplamente aceita na doutrina e na jurisprudência, pela qual se presume que a pessoa jurídica manifesta sua vontade por meio dos órgãos que a compõem, sendo eles mesmos, os órgãos, compostos de agentes. Desse modo, quando os agentes agem, é como se o próprio Estado o fizesse.
Fonte:
6 Ver Constituição Federal: art 51, III e IV, para a Câmara dos Deputados; art 52, XII e XIII para o Senado Federal; e art 96, II, "d", para os Tribunais do Judiciário.
Conforme ensina Maria Sylvia Di Pietro, com a teoria do órgão "substitui-se a ideia de representação pela de imputação". Ao invés de considerar que o Estado outorga a responsabilidade ao agente, passou-se a considerar que os atos praticados por seus órgãos, através da manifestação de vontade de seus agentes, são imputados ao Estado. " O órgão é parte do corpo da entidade e, assim, todas as suas manifestações de vontade são consideradas como da própria entidade 7" .
Deve-se notar, contudo, que não é qualquer ato que será imputado ao Estado. É necessário que o agente que pratica o ato esteja agindo conforme a lei ou que, pelo menos, o ato revista-se de aparência de ato jurídico legítimo e seja praticado por alguém que pareça ser um agente público (funcionário de fato). Com efeito, o cidadão comum não tem condições de verificar se o agente público foi investido regularmente no cargo ou se ele está agindo dentro de sua esfera de competência. No caso, basta a aparência da investidura e o exercício da atividade pelo órgão competente para que, em nome dos princípios da boa-fé, da segurança jurídica e da presunção de legalidade dos atos administrativos, a conduta seja imputada ao Estado 8.
Criação e extinção
A criação e a extinção de órgãos na Administração Direta do Poder Executivo necessitam de lei em sentido formal, de iniciativa do chefe do Poder Executivo (CF, art. 61, §1º, II, "e"9) . Ou seja, a lei deve ser aprovada no Poder Legislativo, mas quem dá início ao processo legislativo é o chefe do Executivo.
Fontes:
7 Knoplck apud Gierke (2013, p. 29)
8 Ver exemplo da certidão emitida por "funcionário de fato" na aula sobre princípios da Administração.
9 Art. 61 (...)
§ 1º -São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
li - disponham sobre:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no art.84,V I.
Já a organização e o funcionamento dos órgãos do Executivo criados por lei podem ser feitos por meio da edição de simples decretos, os chamados decretos autônomos, desde que não impliquem aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos (CF, art. 84, VI, "a 11 10) .
No caso dos órgãos do Poder Judiciário, a iniciativa da lei compete ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça, conforme o caso, nos termos do art. 96, II, "c" e "d" da CF. O mesmo ocorre com o Ministério Público ( CF, art . 127 , §2º) e com o Tribunal de Contas (CF, art. 73, caput), que também possuem competência para dar início ao processo legislativo referente à própria organização administrativa.
O autor Carvalho Filho defende que, no Poder Legislativo, a criação e a extinção de órgãos, bem como sua organização e funcionamento. não dependem de lei, mas sim de atos
administrativos praticados pelas respectivas Casas (CF, art. 51, IV e art. 52, XIII).
O entendimento do autor é na linha de que a criação de órgãos no Legislativo representa um ato de organização interna, uma espécie de reegenharia organizacional. Ou seja, segundo o autor, a Câmara e o Senado , órgãos públicos previstos na Constituição, podem criar na sua estrutura, por ato administrativo, órgãos inferiores ou subalternos, como Secretarias, Departamentos e Gabinetes.
O autor possui um pensamento semelhante em relação ao Poder Executivo, ou seja, para ele, seria lícito que o Executivo crie órgãos auxiliares , inferiores ou subalternos, desde que os cargos existentes sejam aproveitados e desde que haja delegação de competência por lei.
Perceba uma coisa: a regra de que a criação de órgãos deve ser feita por lei é porque tal medida pode ter como consequência a criação de novos cargos públicos e, consequentemente, de novas despesas. Como no Legislativo a criação de cargos não precisa ser feita por lei (CF, art. 51, IV e art. 52, XIII), então a criação de órgão também não precisaria.
Enfim, como se nota, a possibilidade de criação de órgãos por ato administrativo é uma situação muito peculiar; logo, se o examinador não especificar essa situação de forma expressa, e simplesmente afirmar que órgãos públicos têm de ser criados por lei, penso que deva considerar como correto, pois trata-se da regra.
Notas:
10 Art. 8 4. Compete privativamente ao Presidente da República:
VI - dis por, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
Capacidade processual
Em regra, o órgão não possui capacidade processual, uma vez que não possui personalidade jurídica. Em consequência, não pode figurar como sujeito ativo ou passivo de uma ação judicial. A capacidade, em regra, é da própria pessoa política (União, Estados, DF e Municípios). Assim, por exemplo, não se interpõe ação judicial contra a Receita Federal, e sim contra a União.
Contudo, há exceções.
A jurisprudência reconhece a capacidade de certos órgãos públicos para a impetração de mandado de segurança na defesa de suas prerrogativas e competências, quando violadas por ato de outro órgão.
Por exemplo, o STJ não reconheceu a capacidade processual de Câmara Municipal que litigava contra o INSS a respeito de contribuições previdenciárias de seus membros¹¹. Por outro lado, já se admitiu mandado de segurança impetrado por Câmara Municipal contra o Prefeito para o fim de obriga-lo à devida prestação de contas ao Legislativo, tendo sido concedida a segurança. No primeiro caso, tratava-se de litígio comum, que não envolvia a violação de competência ou prerrogativa da Câmara Municipal; portanto, aplicou-se a regra geral de que órgão não possui capacidade processual. Ao contrário, no segundo caso, em que a omissão do Prefeito impedia o exercício da competência do Legislativo Municipal de julgar as contas do Prefeito (CF, art. 31), reconheceu-se a capacidade do órgão para impetrar mandado de segurança com o fim de defender suas prerrogativas e competências.
Ressalte-se que essa capacidade só é reconhecida em relação aos chamados órgãos autônomos e independentes, que são os órgãos mais elevados do Poder Público, de natureza constitucional, e apenas quando defendem suas prerrogativas e competências. Não alcança, portanto, os demais órgãos, superiores e subalternos.
Outra exceção está prevista no Código de Defesa do Consumidor, o qual dispõe que são legitimados para promover a liquidação e execução de indenização "as entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código" (Lei 8.078/1990, art. 82, III ).
Nota:
11 REsp 1.109.84 0/ AL
Classificação
Vamos conhecer a classificação adotada por Hely Lopes Meireles:
Quanto à estrutura
-
Órgãos simples ou unitários: são aqueles que não possuem subdivisões em sua estrutura interna, ou seja, desempenham suas atribuições de forma concentrada. Ressalte-se que os órgãos unitários podem ser compostos por mais de um agente. O que não há são outros órgãos abaixo dele.
-
Órgãos compostos: reúnem em sua estrutura diversos órgãos menores, subordinados hierarquicamente, como resultado da desconcentração.
Por exemplo: o Ministério da Fazenda é integrado por vários órgãos, dentre os quais a Secretaria da Receita Federal do Brasil. Esta se subdivide em diversos órgãos, como as Superintendências Regionais que, por sua vez, são integradas por Delegacias, e assim sucessivamente, até chegarmos a um órgão que não seja mais subdividido: este será o órgão unitário; todos os demais são compostos.
Quanto à atuação funcional
-
Órgãos singulares ou unipessoais: são aqueles cujas decisões dependem da atuação isolada de um único agente, seu chefe e representante. Aqui também vale a mesma ressalva aplicável aos órgãos unitários, qual seja, os órgãos singulares podem ser compostos por diversos agentes, porém as decisões são tomadas apenas pelo chefe.
Exemplo : Presidência da República, em que a decisão cabe ao Presidente.
Órgãos colegiados ou pluripessoais: são aqueles cuja atuação e decisões são tomadas pela manifestação conjunta de seus membros.
Exemplo : Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e, no Executivo, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.
Quanto à posição estatal
Órgãos independentes: são aqueles previstos diretamente na Constituição Federal, representando os três Poderes, nas esferas federal, estadual e municipal, não sendo subordinados hierarquicamente a nenhum outro órgão. As atribuições destes órgãos são exercidas por agentes políticos.
Exemplo: Presidência da República, Câmara dos Deputados, Senado Federal, STF, STJ e demais tribunais, bem como seus simétricos nas demais esferas da Federação. Incluem-se ainda o Ministério Público da União e o do Estado¹² e os Tribunais de Contas da União, dos Estados e dos Municípios.
-
Órgãos autônomos: são aqueles que se situam na cúpula da Administração, logo abaixo dos órgãos independentes, auxiliando-os diretamente. Possuem ampla autonomia administrativa, financeira e técnica, mas não independência. Caracterizam-se como órgãos diretivos.
Exemplo: os Ministérios, as Secretarias de Estado, a Advocacia-Geral da União, etc.
-
Órgãos superiores: possuem atribuições de direção, controle e decisão, mas sempre estão sujeitos ao controle hierárquico de uma instância mais alta. Não têm nenhuma autonomia, seja administrativa seja financeira.
Exemplo: Procuradorias, Coordenadorias, Gabinetes.
-
Órgãos subalternos: são todos aqueles que exercem atribuições de mera execução, com reduzido poder decisório, estando sempre subordinados a vários níveis hierárquicos superiores.
Exemplo: seções de expediente, de pessoal, de material etc.
Maria Sylvia Di Pietro apresenta, ainda, outras classificações possíveis para os órgãos:
-
Órgãos burocráticos: aqueles que estão a cargo de uma só pessoa física ou de várias pessoas ordenadas numa estrutura hierárquica vertical (ex: uma Diretoria, em que existe um diretor e várias pessoas a ele ligadas) . Fazem contraponto aos órgãos colegiados, que são formados por várias pessoas físicas ordenadas horizontalmente, ou seja, em uma relação de coordenação, e não de hierarquia.
-
Órgãos ativos, consultivos ou de controle: possuem como função primordial, respectivamente, o desenvolvimento de uma administração ativa, de uma atividade consultiva ou de controle sobre outros órgãos.
Nota:
12 Diversamente, Maria Sylvia Di Pietro classifica o Ministério Público como órgão autônomo.
1O. (Cespe - TJDFT ) Os órgãos públicos classificam-se, quanto à estrutura, em órgãos singulares, formados por um único agente, e coletivos, integrados por mais de um agente ou órgão.
Comentário: A questão está errada. Primeiro porque, quanto à estrutura, os órgãos públicos classificam-se em simples (não possuem subdivisões) e compostos (possuem subdivisões). Órgãos singulares e coletivos referem-se à classificação quanto à atuação funcional. Outro erro é que órgãos singulares são aqueles cujas decisões são tomadas por um único agente, e não necessariamente formados por um único agente. A Presidência da República, por exemplo, é um órgão singular, porque suas decisões são tomadas pelo Presidente da República; no entanto, a Presidência da República possui vários servidores em seus quadros.
Gabarito: Errado
11. (Cespe - MPTCDF ) A atuação do órgão público é imputada à pessoa jurídica a que esse órgão pertence.
Comentário: A questão está correta. O órgão público não possui personalidade jurídica. Ele é apenas uma extensão da entidade que o criou. Assim, todas as suas manifestações de vontade, concretizadas pela atuação dos agentes públicos, são consideradas como da própria pessoa jurídica mãe. Dizendo de outra forma, a atuação do órgão público é imputada à pessoa jurídica, a qual pode ser uma entidade política ou uma entidade administrativa. Esse é o fundamento da chamada teoria do órgão.
Gabarito: Certo
12. (Cespe - Polícia Federal) Os ministérios e as secretarias de Estado são considerados, quanto à estrutura, órgãos públicos compostos.
Comentário: Questão correta. Órgãos públicos compostos são aqueles que se subdividem em vários outros órgãos que lhe são subordinados hierarquicamente. Os Ministérios e as Secretarias de Estado são órgãos compostos, pois se subdividem em departamentos, conselhos, gabinetes etc. Os órgãos compostos contrapõem-se aos órgãos simples ou unitários, que não possuem subdivisões em sua estrutura interna.
Gabarito: Certo
13. (Cespe - Bacen ) A Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal compõe a estrutura da administração indireta.
Comentário: As Secretarias de Estado, assim como os Ministérios, são órgãos do Poder Executivo, desprovidos de personalidade jurídica própria; portanto, compõem a estrutura da Administração Direta, e não da Indireta.
Gabarito: Errado
14. (ESAF - CVM ) São características dos órgãos públicos, exceto:
a) integrarem a estrutura de uma entidade política, ou administrativa.
b) serem desprovidos de personalidade jurídica.
c) poderem firmar contrato de gestão, nos termos do art. 37, § 8° da Constituição Federal.
d) resultarem da descentralização.
e) não possuírem patrimônio próprio.
Comentários: Vamos analisar as alternativas, verificando se são ou não características dos órgãos públicos:
a) CERTA. Os órgãos públicos são unidades administrativas constituídas no âmbito da estrutura organizacional de entidades políticas, ocasião em que formam a chamada Administração Direta (ex: Ministérios do Poder Executivo, Secretarias Estaduais etc.) ou de entidades administrativas (ex: diretorias, superintendências, gerências de empresas públicas).
b) CERTA. Os órgãos públicos não possuem personalidade jurídica. Em consequência, não podem ser sujeitos de direitos e obrigações. As consequências de suas atividades são imputadas à entidade, política ou administrativa, a que se ligam.
c) CERTA, nos termos do art. 37, §8° da CF, que dispõe sobre os contratos de gestão:
§ 8° A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas
de desempenho para o órgão ou entidade (...)
Veremos mais sobre os contratos de gestão em aula específica do curso.
d) ERRADA. Os órgãos públicos resultam da desconcentração, e não da descentralização. Esta pressupõe a criação de novas entidades, com personalidade jurídica própria, que não se confunde com a da entidade criadora. Já na desconcentração há a criação de unidades despersonalizadas, subordinadas hierarquicamente à entidade criadora.
e) CERTA. Os órgãos públicos, por não possuírem personalidade jurídica, também não possuem patrimônio próprio. Seu patrimônio pertence à entidade instituidora.
Gabarito: alternativa "d"
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Administração Indireta é o conjunto de pessoas jurídicas (desprovidas de autonomia política) que, vinculadas à Administração Direta, têm a competência para o exercício de atividades administrativas, de forma descentralizada.
Nos termos do art. 4º do Decreto Lei 200/ 19 67¹³, a Administração Indireta compreende as seguintes categorias de entidades, todas dotadas de personalidade jurídica própria:
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Autarquias.
-
Empresas Públicas.
-
Sociedades de Economia Mista.
-
Fundações Públicas.
Além dessas entidades, a Administração Indireta contempla ainda os consórcios públicos, constituídos sob a forma de associações públicas, conforme a disciplina da Lei 11.107/ 2005.
Conforme esclarece Hely Lopes Meireles, podemos dizer que a administração indireta é constituída dos serviços atribuídos a pessoas jurídicas diversas da União, de direito público ou de direito privado, vinculadas a um órgão da administração direta, mas administrativa e financeiramente autônomas.
Nota:
13 O Decreto-Lei 200/1967 dispõe sobre a organização da Administração Pública Federal) Entretanto, a forma de organização prevista no referido Decreto também é aplicável aos Estados, DF e Municípios.
A descentralização administrativa está diretamente relacionada à busca pela eficiência no desempenho das atividades estatais. A ideia básica é que a criação de uma pessoa jurídica dotada de autonomia administrativa, gerencial e financeira, bem como de pessoal especializado, permite a realização de atribuições de modo mais eficiente.
No âmbito federal, geralmente as entidades da administração indireta se vinculam aos Ministérios, integrantes da administração direta. Contudo, a entidade descentralizada também pode se vincular a órgãos equiparados a Ministérios, como Gabinetes e Secretarias ligadas à Presidência da República.
Como já assinalado, essa vinculação entre administração direta e indireta caracteriza a supervisão ministerial, também denominada de tutela administrativa, que tem por objetivos principais a verificação dos resultados alcançados pelas entidades descentralizadas, a harmonização de suas atividades com a política e a programação do Governo, a eficiência de sua gestão e a manutenção de sua autonomia administrativa, operacional e financeira 14.
Exemplo disso é o Banco Central, uma entidade da administração indireta (autarquia) que é vinculada (e não subordinada) ao Ministério da Fazenda. O Banco Central é responsável, entre outras coisas, pela fixação da taxa de juros do país. Tal decisão possui natureza estritamente técnica e, por isso, deve ser tomada com total independência. Assim, a tutela exercida pelo Ministério da Fazenda não deve contemplar qualquer ingerência na definição da taxa de juros, pois ele não possui ascendência hierárquica sobre o Banco Central. Ao contrário, a supervisão ministerial deve ser orientada para que o Banco Central se mantenha dentro de suas finalidades institucionais, cuidando para que ele não se afaste das normas que deve respeitar.
Carvalho Filho ensina que a supervisão ministerial se distribui sobre quatro aspectos 15:
-
Controle político, pelo qual os dirigentes das entidades da administração indireta são escolhidos e nomeados pela autoridade competente da administração direta, razão por que exercem eles função de confiança.
-
Controle institucional, que obriga a entidade a caminhar sempre no sentido dos fins para os quais foi criada.
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Controle administrativo, que permite a fiscalização dos agentes e das rotinas administrativas da entidade.
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Controle financeiro, pelo qual são fiscalizados os setores financeiro e contábil da entidade.
Notas:
14 Meireles, H. L (2008, p. 749)
15 Carvalho Filho (2014, p. 470)
Já Celso Antônio Bandeira de Mello assevera que esse controle sobre a entidade deve se dar nos estritos limites da lei, o que é conhecido como tutela ordinária. Ou seja, a tutela ordinária depende de lei para ser exercida. Porém, conforme esclarece o autor, "a doutrina admite, em circunstâncias excepcionais, perante casos de descalabro administrativo, de graves distorções de comportamento da autarquia, que a Administração Central, para coibir desmandos sérios, possa exercer, mesmo à falta de disposição legal que a instrumente, o que denominam de tutela extraordinária".
Detalhe é que não só as entidades da administração indireta estão sujeitas à supervisão ministerial. Os órgãos da administração direta também se submetem a esse controle, nos termos do art. 19 do Decreto Lei 200/1967:
Art. 19. Todo e qualquer órgão da Administração Federal, direta ou indireta, está sujeito à supervisão do Ministro de Estado competente, excetuados unicamente os órgãos mencionados no art. 32, questão submetidos à supervisão direta do Presidente da República.
A diferença é que a supervisão ministerial exercida sobre as entidades da administração indireta possui característica de controle finalístico (sem subordinação, apenas vinculação); já sobre a administração direta constitui controle hierárquico.
Por fim, importante relembrar que existe Administração Pública em todos os Poderes e em todas as esferas do Estado. Assim, a administração indireta não se restringe ao Poder Executivo. Assim, nada impede que existam entidades da administração indireta vinculadas a órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, embora o mais comum, na prática, seja mesmo a vinculação ao Poder Executivo.
15. (Cespe - TRT10) As autarquias federais detêm autonomia administrativa relativa, estando subordinadas aos respectivos ministérios de sua área de atuação.
Comentário: A questão está errada. As entidades da administração indireta, dentre elas as autarquias, não estão subordinadas aos respectivos Ministérios. Com efeito, a hierarquia existe dentro de uma mesma pessoa jurídica, relacionando-se à ideia de desconcentração. Ao contrário, as entidades da administração indireta possuem personalidade jurídica própria, diferente da do ente instituidor. Dessa forma, a autarquia e o Ministério de sua área de atuação estão ligados por uma relação de tutela que, diferentemente da hierarquia, pressupõe a existência de duas pessoas jurídicas , existindo onde haja descentralização.
Ademais, vale ressaltar que a hierarquia existe independentemente de previsão legal, por que é princípio inerente à organização administrativa. Já a tutela não se presume, pois só existe quando a lei prevê. Ambas, contudo, hierarquia e tutela, são modalidades de controle administrativo.
Conforme ensina Maria Sylvia Di Pietro, no direito positivo brasileiro não se usa a expressão tutela. Na esfera federal, o que se usa é a expressão supervisão ministerial. Nos termos do art. 26 do Decreto-Lei 200/1967, no que se refere à Administração Indireta, a supervisão ministerial visará a assegurar, essencialmente:
I - A realização dos objetivos fixados nos atos de constituição da entidade.
II- A harmonia com a política e a programação do Governo no setor de atuação da entidade.
III- A eficiência administrativa.
IV - A autonomia administrativa, operacional e financeira da entidade..
Gabarito: Errado
16. (Cespe - MPU) Verifica-se a existência de hierarquia administrativa entre as entidades da administração indireta e os entes federativos que as instituíram ou autorizaram a sua criação.
Comentário: Em nenhuma forma de descentralização há hierarquia. Portanto, por serem oriundas da descentralização, as entidades da administração indireta não estão subordinadas hierarquicamente aos entes federativos que as instituíram ou autorizaram a sua criação, daí o erro. A partir do momento em que adquirem personalidade jurídica, as entidades passam a ter vida própria, podendo atuar com autonomia administrativa, operacional e financeira para atingir as finalidades para as quais foram criadas. Contudo, permanecem vinculadas ao ente instituidor para fins de supervisão ministerial, uma espécie de controle finalístico ou tutela que visa a assegurar que as entidades não se desviem dos fins previstos na respectiva lei instituidora.
Gabarito: Errado
Feitas essas considerações, passemos ao estudo das características das entidades da administração indireta (autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista) assunto bastante explorado nas provas de concurso.
CARACTERÍSTICAS GERAIS
As pessoas jurídicas que integram a administração indireta - autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista - apresentam três pontos em comum: necessidade de lei específica para serem criadas, personalidade jurídica própria e patrimônio próprio.
Ademais, toda a administração indireta se submete ao princípio da especialização, pelo qual as entidades devem ser instituídas para servir a uma finalidade específica.
Entretanto, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista se diferenciam em vários aspectos, iniciando pela finalidade para as quais são criadas. Com efeito, veremos que as autarquias são indicadas para o desempenho de atividades típicas de Estado; as fundações públicas, para o desempenho de atividades de utilidade pública; e as empresas públicas e sociedades de economia mista. para a exploração de atividades econômicas.
A natureza jurídica das entidades também constitui importante ponto de distinção: as autarquias são pessoas jurídicas de direito público; as empresas públicas e sociedades de economia mista são pessoas jurídicas de direito privado; já as fundações podem ser tanto de direito público quanto de direito privado.
As autarquias, por serem pessoas de direito público, são efetivamente criadas por lei específica. Não há necessidade de qualquer outra providência administrativa para que a autarquia adquira personalidade jurídica e possa ser considerada sujeito de direitos e de obrigações. A própria lei que a cria é suficiente para tanto.
Já as sociedades de economia mista e empresas públicas, pessoas jurídicas de direito privado, também necessitam de lei para serem criadas. Todavia, em relação a essas entidades, a Constituição dispõe que a lei irá, tão somente, autorizar a instituição. Ou seja, nesses casos, a lei, ainda que necessária, não é suficiente para a criação da pessoa jurídica. Isso porque tais entidades, como dito, são pessoas de direito privado. Assim, outras providências devem ser tomadas para a criação da personalidade jurídica, notadamente o registro em junta comercial (caso a entidade tenha por objeto o exercício de atividade empresarial) ou em cartório (caso o objeto não seja empresarial).
Detalhe é que as fundações podem ser tanto de direito público como de direito privado. Se forem de direito público, o registro é dispensado, bastando apenas a edição de lei instituidora específica. O registro é necessário apenas para as fundações de direito privado.
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(*) A lei apenas autoriza a criação.
Tais procedimentos são previstos nos seguintes incisos do art. 37 da Constituição Federal:
XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação;
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de qualquer delas em empresa privada;
Quando o inciso XIX fala em "lei específica", o texto constitucional exige a edição de uma lei ordinária cujo conteúdo específico seja a criação de determinada autarquia ou a autorização da instituição de determinada empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação. Isso, porém, não significa a necessidade de que a lei autorizadora da criação da entidade seja específica e limitada a dispor sobre isso. É perfeitamente possível que uma lei disponha sobre vários assuntos e, no seu bojo, veicule autorização para a criação de uma entidade descentralizada. O que se impede é a autorização genérica e indeterminada para que a Administração crie quantas entidades desejar e quando quiser.
A criação de subsidiárias das entidades da administração indireta também deve ser feita mediante lei, conforme se depreende do inciso XX do art. 37 da CF, acima transcrito. Com efeito, deve-se entender "autorização legislativa" como sinônimo de "autorização em lei". Assim, por exemplo, caso a União deseje criar uma subsidiária de determinada sociedade de economia mista federal, o Congresso Nacional deverá editar uma lei ordinária específica, de iniciativa do Presidente da República, autorizando a criação 16.
Não obstante o inciso XX exigir autorização legislativa " em cada caso", a jurisprudência do STF firmou o entendimento de que isso não significa necessidade de uma lei para cada subsidiária a ser criada. Segundo o Supremo, para satisfazer a exigência do inciso XX do art. 37 da CF, é suficiente que haja um dispositivo genérico autorizando a instituição de subsidiárias na própria lei que criou a entidade da administração indireta matriz. A mesma interpretação deve ser dada à parte final do dispositivo, referente à participação no capital de empresas privadas 17.
Deste modo, por exemplo, caso a lei que autorizou a criação de determinada empresa pública ou sociedade de economia mista também autorize, de forma genérica, que essas entidades criem subsidiárias ou adquiram participações societárias em outras empresas, não há necessidade de nova autorização legislativa para cada subsidiária que se pretenda criar ou para cada participação societária que se pretenda adquirir. Segundo a jurisprudência do Supremo, o dispositivo genérico presente na lei que autorizou a criação das entidades já atende o requisito constitucional que exige autorização legislativa "em cada caso".
Portanto, vê-se que, em relação à especificidade da lei, a orientação é diferente quando se compara, de um lado, a criação das entidades matriz e, de outro, a instituição das respectivas subsidiárias e a participação no capital de empresas privadas. No primeiro caso, o dispositivo legal deve ser específico; no segundo, pode ser genérico.
Fontes:
16 Um exemplo de autorização legislativa para a constituição de subsidiárias é a Lei 11.908 / 2009 . cujo art. 12 dispõe "O Banco do Brasil S.A. e a Caixa Econômica Federal ficam autorizados a constituir subsidiárias integrais ou controladas. com vistas no cumprimento de atividades de se u objeto social".
17 Ver ADI 1.649 /D F.
17. (ESAF - MIN ) Nos termos de nossa Constituição Federal e de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, depende de autorização em lei específica:
a) a instituição das empresas públicas, das sociedades de economia mista e de fundações, apenas.
b) a instituição das empresas públicas e das sociedades de economia mista, apenas.
c) a instituição das autarquias, das empresas públicas, das sociedades de economia mista e de fundações, apenas.
d) a participação de entidades da Administração indireta em empresa privada, bem assim a instituição das autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações e subsidiárias das estatais.
e) a participação de entidades da Administração indireta em empresa privada, bem assim a instituição das empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações e subsidiárias das estatais.
Comentários: A questão deve ser resolvida com base no art. 37, XIX e XX da CF:
XIX - somente por lei especifica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar,neste último caso, definir as áreas de sua atuação;
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de qualquer delas em empresa privada;
Vamos então analisar cada assertiva:
a) CERTA. Nos termos do inciso XIX, depende de autorização em lei específica a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, apenas. De fato, a instituição das autarquias é feita diretamente por lei específica, e não apenas autorizada por ela. Já a criação de subsidiárias e a participação em empresa privada dependem de autorização legislativa, a qual, segundo a jurisprudência do STF, pode ser dada de forma genérica na lei que criou ou autorização a criação da entidade matriz.
b) ERRADA. Além das empresas públicas e das sociedades de economia mista, a instituição de fundações também depende de autorização legislativa. Mas isso quando se tratar de fundações públicas de direito privado, uma vez que as de direito público são consideradas uma espécie de autarquia e, portanto, criadas diretamente por lei.
c) ERRADA. A instituição das autarquias é feita diretamente pela lei específica, e não apenas autorizada por ela.
d) ERRADA. Idem ao anterior. Ademais, a participação de entidades da Administração indireta em empresa privada não depende de autorização em lei específica, sendo suficiente que haja dispositivo contendo uma autorização genérica na própria lei que criou a entidade da administração indireta matriz.
e) ERRADA. A participação de entidades da Administração indireta em empresa privada e a instituição de subsidiárias das estatais dependem de autorização em lei específica, sendo suficiente, segundo a jurisprudência do Supremo, que haja dispositivo contendo uma autorização genérica na própria lei que criou a entidade matriz.
Gabarito: alternativa "a"
Em seguida, vamos ver mais detalhes sobre as peculiaridades das entidades componentes da administração indireta.
AUTARQUIAS
Conceito
O art. 5°, I do Decreto-Lei 200/1967 conceitua autarquia da seguinte forma:
Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.
Já Maria Sylvia Di Pietro apresenta a seguinte conceituação
Autarquia é pessoa jurídica de direito público, criada por lei, com capacidade de autoadministração, para o desempenho de serviço público descentralizado, mediante controle administrativo exercido nos termos da lei.
Como exemplos de autarquias integrantes da administração indireta federal, pode-se mencionar: as agências reguladoras ( ANEEL, ANS, ANATEL etc.), os conselhos profissionais ( Conselho Federal de Medicina, Conselho Federal de Contabilidade), o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), as universidades federais, o Banco Central, o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), dentre outras. Os Estados e Municípios também têm suas próprias autarquias.
Vamos então destrinchar os diversos aspectos presentes nos conceitos apresentados.
Criação e extinção
Como já adiantado, a criação de autarquias depende apenas da edição de uma lei específica. Salvo se esta lei criar outras exigências ou condições, a personalidade jurídica das autarquias tem Inicio juntamente com a vigência da lei criadora. A partir desse momento, em que adquirem personalidade jurídica própria, as autarquias tornam-se capazes de contrair direitos e obrigações.
Pelo princípio da simetria das formas jurídicas, pelo qual a forma de nascimento dos institutos jurídicos deve ser a mesma para sua extinção, a extinção das autarquias também deve ser feita mediante a edição de lei específica. Assim, uma autarquia não pode, por exemplo, ser extinta mediante um mero ato administrativo.
A lei de criação e extinção das autarquias deve ser da iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo (CF, art. 61, §1º, "e"). Logicamente, se a entidade a ser criada ou extinta se vincular ao Poder Legislativo ou Judiciário, a iniciativa da lei será do respectivo chefe de Poder.
Atividades desenvolvidas
A principal característica das autarquias consiste na natureza jurídica da atividade que desenvolvem, qual seja, atividades próprias e típicas de Estado, despidas de caráter econômico. Daí o costume da doutrina de se referir à autarquia como "serviço público descentralizado" ou "serviço público personalizado".
A diferença é que a autarquia é concebida para prestar aquele determinado serviço de forma especializada, técnica, com organização própria, administração mais ágil e não sujeita a decisões políticas sobre seus assuntos.
Sempre que as entidades políticas descentralizam atividades típicas de Estado, a entidade a ser criada é uma autarquia.
Porém, Lucas Furtado ressalta que existem autarquias cujas atividades não são exclusivas de Estado. Por exemplo, a Universidade de São Paulo (USP) desempenha atividades de ensino, pesquisa e extensão, que não são consideradas típicas de Estado. Todavia, esta universidade é uma autarquia.
Ressalte-se que, em razão do princípio da especialidade, a lei que cria a autarquia deve delimitar as competências a ela atribuídas. Consequentemente, a autarquia deve atuar nos limites dos poderes recebidos, não podendo desempenhar outras atribuições senão aquelas que lhe foram conferidas pela lei 18.
Regime jurídico
Por desempenhar atividades típicas de Estado, a personalidade jurídica da autarquia é de direito público. Sendo a autarquia pessoa de direito público, consequentemente se submete a regime jurídico de direito público, possuindo as prerrogativas e sujeições que informam o regime jurídico-administrativo, próprias das pessoas públicas de natureza política (União, Estados, DF e Municípios).
Com efeito, as seguintes prerrogativas são aplicáveis às autarquias 19:
Notas:
18 Nesse sentido, o STJ já decidiu que não caberia a determinada autarquia expedir atos de caráter normativo por inexistir norma expressa que lhe conferisse tal competência (Resp 1.103.913/ PR)
19 Lucas Furtado (2014, p.147) e Knoplck (2013, p. 34)
-
Prazos processuais em dobro (CPC, art. 183);
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Prescrição quinquenal, pela qual as dívidas e direitos em favor de terceiros contra a autarquia prescrevem em cinco anos.
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Pagamento de dívidas decorrentes de condenações judiciais efetuado por meio de precatórios (CF, art. 100). Em razão do regime de precatórios, nas execuções judiciais contra uma autarquia, os bens desta não estão sujeitos a penhora, ou seja, não podem ser compulsoriamente alienados para satisfazer a execução da dívida;
-
Possibilidade de inscrição de seus créditos em dívida ativa e a sua respectiva cobrança por meio de execução fiscal (Lei 6.830/1980);
-
Impenhorabilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade de seus bens;
-
Imunidade tributária, ou seja, vedação à União, Estados, DF e Municípios de instituir impostos incidentes sobre o patrimônio, renda ou serviços vinculados a finalidades essenciais das autarquias ou dela decorrentes (CF, art. 150, §2º). Significa dizer que se algum bem ou serviço tiver destinação diversa das finalidades da entidade autárquica, incidirão normalmente, sobre o patrimônio e os serviços, os respectivos impostos.
-
Não sujeição à falência. Em caso de insolvência de uma autarquia, o ente federado que a criou responderá, de forma subsidiária, pelas obrigações decorrentes.
Por serem pessoas jurídicas de direito público, os atos praticados pelas autarquias são, em regra, atos administrativos, ostentando as mesmas peculiaridades dos atos emanados pela administração direta (por exemplo, presunção de legitimidade, imperatividade e autoexecutoriedade).
Da mesma forma, os contratos celebrados pelas autarquias também são, em regra, contratos administrativos, sujeitos ao mesmo regime jurídico aplicável aos contratos celebrados pela administração direta (por exemplo, serem precedidos de licitação, salvo exceção prevista em lei).
De se destacar, todavia, que alguns (poucos) atos e contratos de autarquias podem ser de natureza privada e, como tais regulados pelo direito privado, a exemplo de contratos de permuta e doação.
18. (ESAF - SUSEP) A SUSEP é uma autarquia, atua na regulação da atividade de seguros (entre outras), e está sob supervisão do Ministério da Fazenda. Logo, é incorreto dizer que ela:
a) é integrante da chamada Administração Indireta.
b) tem personalidade jurídica própria, de direito público.
c) está hierarquicamente subordinada a tal Ministério.
d) executa atividade típica da Administração Pública.
e) tem patrimônio próprio.
Comentário: Por ser uma autarquia, é correto afirmar que a SUSEP integra a Administração Indireta (opção "a"), tem personalidade jurídica própria, de direito público (opção "b"), executa atividade típica da Administração Pública (opção "d") e tem patrimônio próprio (opção "e"). Todas essas são características inerentes a qualquer autarquia. Por outro lado, é errado afirmar que a SUSEP está hierarquicamente subordinada ao Ministério da Fazenda (opção "c"). Com efeito, as autarquias são entidades autônomas, ligadas ao Ministério supervisor apenas por laços de vinculação, para fins de controle finalístico, mas sem subordinação hierárquica.
Gabarito: alternativa "c"
19. (Cespe - AGU) As autarquias, que adquirem personalidade jurídica com a publicação da lei que as institui, são dispensadas do registro de seus atos constitutivos em cartório e possuem as prerrogativas especiais da fazenda pública, como os prazos em dobro para recorrer e a desnecessidade de anexar, nas ações judiciais, procuração do seu representante legal.
Comentário: Perfeita a assertiva. As autarquias, em termos de prerrogativas, são comparadas às próprias pessoas políticas.
Detalhe na questão é que, diferentemente das entidades da administração indireta instituídas com personalidade jurídica de direito privado, a criação das autarquias dispensa o registro de seus atos constitutivos, uma vez que a aquisição da personalidade jurídica de direito público ocorre com a vigência da lei criadora.
Gabarito: Certo
20. (ESAF - ATRFB) Quanto às autarquias no modelo da organização administrativa brasileira, é incorreto afirmar que
a) possuem personalidade jurídica.
b) são subordinadas hierarquicamente ao seu órgão supervisor.
c) são criadas por lei.
d) compõem a administração pública indireta.
e) podem ser federais, estaduais, distritais e municipais.
Comentário: As autarquias são entidades da administração pública indireta (opção "d"), com personalidade jurídica própria (opção "a"), de direito público, criadas por lei (opção "c") e, quanto ao nível federativo, podem ser federais, estaduais, distritais e municipais (opção "e"). Por outro lado, não estão subordinadas hierarquicamente ao seu órgão supervisor (opção "b" - gabarito), mas apenas a ele vinculadas para fins de controle finalístico.
Gabarito: alternativa "b"
Classificação
Maria Sylvia Di Pietro apresenta alguns critérios utilizados para classificar as autarquias.
Quanto à capacidade administrativa
O critério da capacidade administrativa distingue dois tipos de autarquias:
-
a geográfica ou territorial, que tem capacidade administrativa genérica, a exemplo dos Territórios Federais; e
-
a de serviço ou institucional , que tem capacidade administrativa específica, ou seja, limitada a determinado serviço que lhe é atribuído por lei, critério no qual se enquadram todas as demais autarquias.
Quanto à estrutura
Um outro critério considera a estrutura das autarquias e as subdivide em:
-
Fundacionais: corresponde à figura da fundação de direito público, ou seja, pessoa jurídica dotada de patrimônio vinculado a um fim que irá beneficiar pessoas indeterminadas, que não a integram como membros ou sócios, a exemplo do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo.
-
Corporativas ou associativas: constituída por sujeitos unidos (ainda que compulsoriamente) para a consecução de um fim de interesse público, mas que diz respeito aos próprios associados, como ocorre com as entidades de fiscalização do exercício de profissões regulamentadas (CREA, CFC, CONFEA etc.).
Detalhe importante é que, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (ADI 3.026/ DF), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) , embora possua as características de uma autarquia (pessoa jurídica de direito público que desempenha atividade típica de Estado, qual seja, a fiscalização do exercício da advocacia, exercendo poder de polícia e poder disciplinar), não integra a administração indireta da União.
Dessa forma, apesar das atividades que exerce, a OAB não seria um conselho fiscalizador de profissão regulamentada, e sim uma entidade ímpar, sui generis, um serviço independente não integrante da administração pública.
Segundo salienta Maria Sylvia Di Pietro, com essa decisão, a OAB passa a ser considerada pessoa jurídica de direito público no que esta tem de vantagens (com todos os privilégios da Fazenda Pública, como imunidade tributária, prazos em dobro, prescrição quinquenal etc.), mas não no que diz respeito às restrições (como licitação, concurso público, controle).
De se destacar, ainda, que os servidores da OAB se sujeitam ao regime celetista, enquanto os servidores dos demais Conselhos profissionais devem se sujeitar ao regime estatuário previsto na Lei 8.112/1990.
Quanto ao nível federativo
As autarquias também podem ser classificadas quanto ao nível federativo. Neste caso, as autarquias podem ser federais, estaduais, distritais e municipais, conforme instituídas pela União, pelos Estados, pelo DF e pelos Municípios, respectivamente.
Embora cada pessoa federativa tenha autonomia política para instituir suas próprias autarquias, não são admissíveis autarquias interestaduais ou intermunicipais. Desse modo, cada autarquia deve se vincular apenas ao ente federativo responsável por sua instituição, não sendo possível a vinculação simultânea a várias pessoas federativas.
A execução de serviços comuns entre as esferas de governo, que caracteriza a gestão associada de serviços públicos prevista no art . 241 da CF ²º, deve ser promovida pela celebração de convênios ou pela formação de consórcios públicos, e não pela criação de autarquia única ²¹
Notas:
²° CF, art. 241: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos.
²¹ Ver no Blnfo STF 247 o tópico:"Autarquia Interestadual: Inexistência".
Alguns autores classificam os consórcios públicos de direito público como autarquias interfederativas, por integrarem a Administração Indireta de todos os entes consorciados, o que não se confunde com autarquias interestaduais ou intermunicipais, cuja existência é vedada pela jurisprudência do STF. Com efeito, os consórcios públicos são regidos por legislação específica, devendo observar os preceitos lá definidos.
Autarquias de regime especial
De se destacar também as chamadas autarquias de regime especial, que são entidades, pelo menos na teoria, dotadas de independência ainda maior que as demais autarquias.
Com efeito, as autarquias de regime especial são aquelas às quais a lei conferiu prerrogativas específicas e não aplicáveis às autarquias em geral. Embora não haja uma definição precisa sobre quais seriam esses privilégios especiais, costuma-se citar como exemplo a estabilidade relativa de seus dirigentes, vez que terão mandato por tempo fixo definido na própria lei criadora da entidade, não podendo haver exoneração pelo chefe do Poder Executivo antes do término do mandato, salvo nos casos expressos na lei.
São exemplos de autarquias de regime especial a USP (Universidade de São Paulo), o Banco Central, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e as agências reguladoras. Para ilustrar, vejamos o que dispõe a Lei 9.472/1997, lei que criou a ANATEL:
Art. 8° Fica criada a Agência Nacional de Telecomunicações, entidade integrante da Administração Pública Federal indireta, submetida a regime autárquico especial e vinculada ao Ministério das Comunicações, com a função de órgão regulador das telecomunicações, com sede no Distrito Federal, podendo estabelecer unidades regionais(...)
§ 2º A natureza de autarquia especial conferida à Agência é caracterizada por independência administrativa, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes e autonomia financeira.
Perceba que " independência administrativa" e "ausência de subordinação hierárquica" são características de qualquer autarquia. O "mandato fixo" e a "estabilidade de seus dirigentes" são as prerrogativas que efetivamente caracterizariam o regime especial da autarquia.
Vale ressaltar que não há consenso na doutrina sobre o tema. Existem autores que não admitem a existência dessa categoria especial de autarquias, pois consideram que os privilégios que normalmente se atribuem a elas não são suficientes para distingui-las das demais entidades autárquicas, afinal, todas elas estariam sujeitas à mesma disciplina constitucional.
Patrimônio
Trata-se, aqui, de caracterizar se o patrimônio das autarquias são bens públicos ou privados.
O art . 98 do Código Civil prescreve que "são públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencem".
Como se vê, bens públicos são aqueles integrantes do patrimônio das pessoas administrativas de direito público. Assim, a natureza dos bens das autarquias é a de bens públicos²².
Em consequência, os bens das autarquias possuem os mesmos meios de proteção atribuídos aos bens públicos em geral, destacando-se entre eles a impenhorabilidade, a imprescritibilidade e as restrições à alienação.
Pessoal
Nesse tópico, o objetivo é esclarecer se o pessoal das autarquias se se sujeita ao regime de servidores públicos estatutários ou de empregados públicos celetistas (contratual trabalhista).
A redação original do art. 39, caput , da Constituição Federal estabelecia que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deveriam instituir regime jurídico único para os servidores da administração direta, das autarquias e das fundações públicas. A ideia era uniformizar o regime jurídico aplicável aos agentes públicos integrantes de uma mesma entidade federativa, evitando, por exemplo, que numa mesma autarquia ou fundação coexistissem servidores sujeitos a diferentes regimes jurídicos (estatutários ou celetistas).
O regime jurídico único, todavia, foi extinto pela EC 19/1998 que, alterando o art. 39 da CF, suprimiu a norma que contemplava o aludido regime. A partir de então, desapareceu a vinculação entre o regime jurídico da administração direta e das autarquias e fundações, o que possibilitou que estas pudessem ter seu pessoal regido tanto pelo regime estatutário como pelo celetista. Não havia impedimento, por exemplo, de que fosse estabelecido o regime estatutário para a administração direta e o regime trabalhista para as autarquias. Tudo dependeria do tratamento que a lei instituidora desse à matéria.
Nota:
²² Carvalho Filho (201 4, p. 487)
Ocorre que o novo art. 39 da CF teve sua eficácia suspensa por decisão cautelar do STF²³, a partir de agosto de 2007, em razão de vício formal ocorrido na aprovação da emenda (não observância, pela Câmara dos Deputados, da necessidade de aprovação em dois turnos). Assim, até que seja julgado o mérito da ação, voltou a vigorar a redação original do dispositivo, que estabelece o regime jurídico único a todos os servidores integrantes da administração direta, das autarquias e das fundações dos entes federados.
-> Redação original, vigente:
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas.
-> Redação dada pela EC 19/1998, com eficácia suspensa pelo STF:
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes.
Conforme esclarece Carvalho Filho, "o regime jurídico único está a indicar que as autarquias devem adotar o mesmo regime estabelecido para os servidores da Administração Direta, isto é, ou todos os servidores serão estatutários ou todos serão trabalhistas".
No caso da União, por conseguinte, as autarquias devem adotar o regime estatutário previsto na Lei 8.112/1990, o qual se aplica à Administração Direta Federal. Por sua vez, nos Estados e Municípios, o regime jurídico do pessoal das autarquias deve observar o regime das respectivas administrações diretas. Em geral, nos Estados e nos Municípios maiores também se adota o regime estatutário.
Atualmente, face à suspensão cautelar do art. 39, caput, da CF, as autarquias se submetem ao regime jurídico único aplicável à respectiva Administração Direta.
Fonte:
²³ ADI 2135/DF
Importante salientar que, na sua decisão, a Suprema Corte ressaltou que a suspensão cautelar do art. 39 da CF teria efeitos prospectivos (ex nunc), ou seja, toda a legislação editada durante a vigência da redação dada pelo EC 19 / 199 8, que extinguiu o regime jurídico único, continua válida, assim como as respectivas contratações de pessoal.
Por fim, observe-se que, em qualquer caso, independentemente da época de admissão e do regime de pessoal adotado, as autarquias são alcançadas pela regra constitucional que exige a realização de concurso público (CF, art. 37, II), bem como pela vedação de acumulação remunerada de cargos, empregos e funções públicas (CF, art. 37, XVII ) 24.
Nomeação e exoneração de dirigentes
A competência para nomeação dos dirigentes de autarquias é do chefe do Poder Executivo (CF, art. 84, XXV).
Para a nomeação, poderá ser exigida previa aprovação pelo Senado Federal do nome escolhido pelo Presidente da República. É o que ocorre, por exemplo, para os cargos de presidente e diretores do Banco Central (CF, art. 84, XIV) e de dirigentes das agências reguladoras 25.
Da mesma forma, segundo o entendimento do STF, são válidas as normas locais dos Estados, DF e Municípios que subordinam a nomeação dos dirigentes de autarquias ou fundações públicas à prévia aprovação da Assembleia Legislativa 26.
Diferentemente, o Supremo entende que a lei não pode exigir aprovação legislativa prévia para a exoneração de dirigentes de autarquias pelo chefe do Poder Executivo, nem exigir que a exoneração seja efetuada diretamente pelo Poder Legislativo 27.
Notas:
24 Alexandrino e Paulo (2014, p. 49)
25 No caso das agências reguladoras, a exigência de aprovação prévia pelo Senado consta somente de lei, com fundamento no art. 52, Ili, " f'' da Constituição Federal.
26 ADI 2.225/SC
27 ADI 1.949 /RS
Foro judicial competente
Em regra, as causas judiciais que envolvem autarquias federais são processadas e julgadas pela Justiça Federal. No caso de autarquias estaduais e municipais, o foro é a Justiça Estadual.
Importante conhecer a peculiaridade que envolve as lides de pessoal. Caso se trate de servidores estatuários, os litígios funcionais entre servidores e a autarquia seguem a regra geral, ou seja, serão processados e julgados pela Justiça Federal (autarquia federal) ou pela Justiça Estadual (autarquia estadual ou municipal). Por outro lado, se os envolvidos forem empregados públicos (submetidos a regime trabalhista), os litígios entre o trabalhador e a autarquia, em qualquer hipótese (autarquia federal, estadual ou municipal), serão processados e julgados pela Justiça do Trabalho (CF, art. 114) 28.
Nota:
28 A Justiça do Trabalho também será competente quando o litígio tiver origem em fato ocorrido anteriormente à eventual transferência do servidor trabalhista para o regime estatutário, por imposição legal. O STJ, a respeito, firmou a Súmula 97: "Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar reclamação de servidor público relativamente a vantagens trabalhistas anteriores à instituição do regime jurídico único".
21. (Cespe - TJDFT) Nos litígios comuns, as causas que digam respeito às autarquias federais, sejam estas autoras, rés, assistentes ou oponentes, são processadas e julgadas na justiça federal.
Comentário: O quesito está correto. Em regra, as causas judiciais que envolvem autarquias federais são processadas e julgadas pela Justiça Federal, nos termos do art. 109, 1 da CF:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
Gabarito: Certo
FUNDAÇÕES PÚBLICAS
Conceito
As fundações são pessoas jurídicas originárias do direito privado, previstas no Código Civil juntamente com as associações e sociedades. Sinteticamente, pode-se dizer que, na pessoa jurídica de forma associativa ou societária, o elemento essencial é a existência de pessoas que se associam para atingir a certos fins que a elas mesmas beneficiam; na fundação, o elemento essencial é o patrimônio destinado à realização de certos fins que ultrapassam o âmbito da própria entidade, indo beneficiar terceiros estranhos a ela.
Assim, ao contrário da associação e da sociedade, a fundação não seria uma "pessoa" de fato, pois não trabalha no interesse próprio; seria sim uma "coisa personificada", um "patrimônio administrado", cujas atividades beneficiam um conjunto de pessoas indeterminadas.
Exemplo de fundação privada, regida pelo Código Civil, é a Fundação Ayrton Senna, constituída a partir de parcela do patrimônio do ídolo para a realização de ações sociais.
A par das fundações privadas, previstas no Código Civil, existem as fundações públicas, previstas na Constituição Federal, entidades que integram a administração indireta dos entes federados e que possuem características semelhantes às fundações privadas. As fundações públicas é que constituem o objeto de nosso estudo.
O art. 5°, IV do Decreto-Lei 200/1967 conceitua fundação pública da seguinte forma:
Fundação Pública - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes.
Já Maria Sylvia Di Pietro apresenta a seguinte conceituação
Fundação instituída pelo poder público é o patrimônio, total ou parcialmente público, dotado de personalidade jurídica, de direito público ou privado, e destinado, por lei, ao desempenho de atividades do Estado na ordem social, com capacidade de autoadministração e mediante controle da Administração Pública, nos termos da lei.
Tanto as fundações públicas como as fundações privadas se caracterizam pela atribuição de personalidade jurídica a um patrimônio, com vistas à consecução de certo objetivo social, sem fins lucrativos.
De fato, são três os elementos essenciais no conceito de fundação, pública ou privada:
-
A figura do instituidor, que faz a dotação patrimonial, ou seja, separa um determinado patrimônio para destiná-lo a uma finalidade específica.
-
O objeto consistente em atividades de interesse social.
-
A ausência de fins lucrativos.
O principal aspecto que diferencia uma fundação privada de uma fundação pública é a figura do instituidor e o patrimônio afetado: as fundações privadas são instituídas por uma pessoa privada, a partir de patrimônio privado; já as fundações públicas são criadas pelo Estado, a partir de patrimônio público.
Vejamos alguns exemplos de fundações públicas da esfera federal, isto é, instituídas a partir do patrimônio da União: FUNAI (Fundação Nacional do Índio); IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística); FUNASA (Fundação Nacional de Saúde), dentre outras. Lembrando que Estados e Municípios também possuem as próprias fundações vinculadas às respectivas administrações diretas.
Natureza jurídica
A natureza jurídica das fundações públicas é assunto controverso na doutrina. Embora o Decreto-Lei 200/1967, como visto no conceito acima, as defina expressamente como pessoas jurídicas de direito privado, há quem entenda de modo completamente diferente, ou seja, que todas as fundações instituídas pelo Estado são pessoas jurídicas de direito público. Outros já advogam a tese de que, mesmo instituídas pelo Poder Público, as fundações públicas têm sempre personalidade jurídica de direito privado, característica que seria inerente a esse tipo de pessoa jurídica.
Porém, o entendimento majoritário, partilhado inclusive pelo STF 29, é de ser possível que o Estado institua fundações com personalidade jurídica de direito público ou privado, a critério do ente federado matriz.
A possibilidade de instituição de fundações públicas com personalidade jurídica de direito público é construção doutrinária e jurisprudencial, não estando expressamente prevista na Constituição Federal. Esta só fala genericamente em "fundações públicas", "fundações mantidas pelo Poder Público" e outras expressões congêneres, mas não deixa clara a opção de natureza jurídica.
Embora a CF não seja específica, Maria Sylvia Di Pietro entende que não há nada que impeça o Estado de instituir pessoa jurídica enquadrada no conceito de fundação, ou seja, com patrimônio personalizado para a consecução de fins que ultrapassam o âmbito da própria entidade, e lhe atribua as prerrogativas e sujeições próprias do regime jurídico- administrativo ou, alternativamente, lhe subordine às disposições do Código Civil. No primeiro caso, a entidade seria uma fundação pública de direito público, e no segundo, uma fundação pública de direito privado.
Nota:
29 RE101,126/RI
As fundações públicas de direito público, como já adiantado em tópico anterior, são consideradas uma modalidade de autarquia, sendo por vezes denominadas de fundações autárquicas ou autarquias fundacionais.
A diferença entre uma autarquia e uma fundação autárquica é meramente conceituai: enquanto a autarquia é definida como um serviço público personificado, em regra, típico de Estado, a fundação autárquica é, por definição, um patrimônio personalizado destinado a uma finalidade específica, de interesse social. Porém, o regime jurídico de ambas é, em tudo, idêntico.
Em cada caso concreto, a conclusão sobre a natureza jurídica da fundação pública - se de direito público ou privado - tem que ser extraída da sua lei que a tenha criado ou autorizado a instituição.
Carvalho Filho defende que o principal elemento de diferenciação entre as fundações públicas de direito público e as de direito privado é a origem dos recursos. Segundo o autor, seriam fundações estatais de direito público aquelas mantidas por recursos previstos no orçamento da pessoa federativa, ao passo que de direito privado seriam aquelas que não dependem do orçamento público, sobrevivendo basicamente com as rendas dos serviços que prestem e com outras rendas e doações oriundas de terceiros.
Criação e extinção
Como já estudado anteriormente, as fundações de direito público são efetivamente criadas por lei específica, à semelhança do que ocorre com as autarquias. Para essas entidades, o início da sua personalidade jurídica se dá a partir da vigência da respectiva lei instituidora.
Já a criação das fundações de direito privado é apenas autorizada pela lei, necessitando ainda de registro do ato constitutivo para que adquiram personalidade jurídica. Nos termos do art. 5°, §3º do Decreto-Lei 200/1967, a personalidade jurídica das fundações de direito privado é adquirida com a "inscrição da escritura pública de sua constituição no Registro Civil de Pessoas Jurídicas".
Pelo princípio da simetria das formas jurídicas, as fundações de direito público são extintas por lei, enquanto que a extinção das fundações de direito privado é apenas autorizada por lei.
Atividades desenvolvidas
As fundações são constituídas para a execução de objetivos sociais, vale dizer, atividades de utilidade pública que, de alguma forma, produzam benefícios à coletividade, sendo característica essencial a ausência de fins lucrativos.
A intenção do instituidor, ao criar uma fundação, é dotar bens para a formação de um patrimônio destinado a promover atividades de caráter social, cultural ou assistencial, e não de caráter econômico ou empresarial.
É comum que as fundações públicas se destinem às seguintes atividades ³°:
-
Assistência social.
-
Assistência médica ou hospitalar.
-
Educação e ensino.
-
Pesquisa.
-
Atividades culturais.
Uma vez que as fundações são constituídas para beneficiar pessoas indeterminadas, de forma desinteressada e sem qualquer finalidade lucrativa, os resultados de sua atividade que ultrapassem os custos de execução não são tratados como lucro, e sim como superávit, o qual deve ser utilizado para o pagamento de novos custos operacionais, sempre com o intuito de melhorar o atendimento dos fins sociais. Como se vê, o aspecto social predomina sobre o fator econômico.
Um tema controverso relativo às atividades desenvolvidas pelas fundações reside na parte final do art. 37, XIX da CF, o qual prescreve que somente por lei específica poderá ser autorizada a instituição de fundação, cabendo à lei complementar definir as áreas de sua atuação.
Fonte:
³°Carvalho Filho (201 4, p. 530 )
Tal lei complementar ainda não foi editada, o que acaba gerando interpretações diversas na doutrina. Como o dispositivo constitucional diz que a lei "autorizará a instituição de fundação", alguns doutrinadores entendem que ele se refere apenas às fundações públicas de direito privado, cabendo à lei complementar, portanto, fixar os setores de atuação apenas dessas entidades. A área de atuação das fundações de direito público, por sua vez, seria aquele definido nas respectivas leis instituidoras. Outra corrente, porém, entende que se trata de regra aplicável tanto às fundações públicas de direito público quanto às fundações públicas de direito privado, ou seja, a lei complementar definiria as áreas de atuação de ambas as entidades.
Outro ponto que apresenta divergência na doutrina se refere à natureza da atividade exercida pelas duas categorias de fundações públicas. Para Carvalho Filho, as fundações governamentais de direito privado são adequadas para a execução de atividades não exclusivas do Estado , ou seja, aquelas que são também desenvolvidas pelo setor privado, como saúde, educação, pesquisa, assistência social, proteção ao meio ambiente, cultura, desporto, turismo, comunicação e até mesmo previdência complementar do servidor público. Para funções estatais típicas a fundação deverá ser pessoa de direito público, já que somente esse tipo de entidade detém poder de autoridade, incompatível para pessoas de direito privado.
Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, contrariamente, ensinam que tanto as fundações públicas de direito público como as de direito privado se destinam à prestação de serviços públicos em geral, desde que não sejam típicos de Estado. Para os autores, a execução descentralizada dos serviços típicos estaria reservada às autarquias.
Regime jurídico
As fundações públicas de direito público fazem jus às mesmas prerrogativas e sujeitam-se às mesas restrições que, em conjunto, compõem o regime jurídico-administrativo aplicável às autarquias, anteriormente estudado.
Já o regime jurídico aplicável às fundações públicas de direito privado tem caráter híbrido, isto é, em parte (quanto à constituição e ao registro) se sujeita às normas de direito privado e, no restante, deve obediência às normas de direito público.
Quanto a esse ponto, vale tecer algumas observações importantes:
-
As prerrogativas processuais atinentes aos prazos especiais para contestar e recorrer e ao duplo grau obrigatório de jurisdição incidem apenas sobre as fundações de direito público, mas não sobre as fundações públicas de direito privado.
-
Da mesma forma, a prerrogativa do pagamento das dívidas decorrentes de condenação judicial por meio de precatório somente se aplica às fundações de direito público, não alcançando as de direito privado (CF, art. 100).
-
Já a imunidade tributária, que veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre o patrimônio, a renda ou os serviços uns dos outros é extensivo tanto às fundações públicas de direito privado como às de direito público (CF, art. 150, §2º).
Necessário, ainda, distinguir as fundações públicas de direito público das de direito privado quanto ao regime jurídico de seus atos e contratos.
Como as fundações de direito público são espécie do gênero autarquia, as manifestações de vontade de seus agentes se exteriorizam, normalmente, por atos administrativos, regulados pelas regras de direito público. Seus contratos também se caracterizam como administrativos, razão pela qual incide a disciplina da Lei 8.666/1993, a qual impõe a necessidade de licitação prévia.
Por outro lado, as fundações públicas de direito privado praticam, de regra, atos de direito privado. Só são considerados atos administrativos aqueles praticados no exercício de função delegada do Poder Público. Em relação aos contratos, não obstante a natureza privada da entidade, também se submetem aos ditames da Lei 8.666/1993, ou seja, são contratos administrativos, cuja celebração deve ser precedida de licitação.
Os contratos celebrados pelas fundações públicas de direito privado são contratos administrativos, regidos pela Lei de Licitações.
Patrimônio
Da mesma forma que as autarquias, os bens do patrimônio das fundações públicas de direito público são caracterizados como bens públicos, protegidos pelas prerrogativas inerentes aos bens dessa natureza, como impenhorabilidade, imprescritibilidade e restrições à alienação.
Já os bens das fundações públicas de direito privado são bens privados. Entretanto, é possível que alguns de seus bens se sujeitem a regras de direito público, como a impenhorabilidade. Isso ocorre com os bens empregados diretamente na prestação de serviços públicos, em decorrência do princípio da continuidade dos serviços públicos.
Pessoal
Quanto à gestão de pessoal, as fundações de direito público, da mesma forma que as autarquias, se sujeitam ao regime jurídico único, devendo adotar o mesmo regime fixado para os servidores da Administração Direta e das autarquias. Lembrando que o regime jurídico único deve ser observado atualmente face à suspensão cautelar da nova
redação do art. 39, caput, da CF.
Já no caso das fundações públicas de direito privado, existe divergência doutrinária. Parte da doutrina acredita que o pessoal dessas entidades deve se sujeitar ao regime trabalhista comum, traçado na CLT, característico das entidades de direito privado. Outra corrente afirma que o pessoal das fundações públicas de direito privado também se submete ao regime jurídico único, uma vez que, para os defensores desse entendimento, todas as disposições constitucionais que se referem a fundações públicas, incluindo o art. 39, caput, da CF, alcançam toda e qualquer fundação pública, de direito público ou privado.
Não obstante, é consenso que se aplicam ao pessoal das fundações públicas de direito privado as restrições de nível constitucional, como a vedação à acumulação de cargos e empregos (CF, art. 37, XVII) e a necessidade de prévia aprovação em concurso público (CF, art. 37, II).
22. (ESAF - ATRFB) A entidade da Administração Indireta, que se conceitua como sendo uma pessoa jurídica de direito público, criada por força de lei, com capacidade exclusivamente administrativa, tendo por substrato um patrimônio personalizado , gerido pelos seus próprios órgãos e destinado a uma finalidade específica, de interesse público, é a
a) autarquia.
b) fundação pública.
c) empresa pública.
d) sociedade de economia mista.
e) agência reguladora.
Comentários: Todas as características, em especial a expressã "patrimônio personalizado", indicam se tratar do conceito de fundação pública (opção "b"). Perceba que, se ao invés de "patrimônio personalizado", assertiva se referisse a "serviço personalizado", estaríamos diante do conceito de autarquia.
Gabarito: alternativa "b"
Controle do Ministério Público
Nos termos do art. 66 do Código Civil, "velará pelas fundações o Ministério Público do Estado, onde situadas".
Tal dispositivo refere-se ao controle sobre as fundações privadas, instituídas por particulares. Trata-se de controle finalístico que possui o objetivo de fiscalizar se a fundação está efetivamente perseguindo os fins para os quais foi constituída. Com efeito, a fundação privada, ao ser criada, adquire vida própria, independente do instituidor, que não poderá nem mesmo fiscalizar se a fundação está cumprindo as finalidades que pensou ao cria-la. Tal papel fiscalizatório das fundações privadas compete ao Ministério Público³¹, cuja atribuição, segundo Oi Pietro, " justifica-se pela necessidade de atribuir a algum órgão público a função de manter a entidade dentro dos objetivos para os quais foi instituída".
No caso das fundações públicas (de direito público ou privado), Di Pietro e Carvalho Filho entendem desnecessária a fiscalização pelo Ministério Público, uma vez que o controle finalístico já é feito pela respectiva administração direta, por intermédio da supervisão ministerial. Segundo os autores, haveria, em consequência, duplicidade de controle para os mesmos fins.
Nota:
³¹ No caso, a competência é do Ministério Público dos Estados.
Isso de maneira alguma significa que o Ministério Público não exerce nenhum tipo de controle sobre as fundações públicas. Não é isso. O Ministério Público, no exercício de suas funções ordinárias, fiscaliza sim as fundações públicas, especialmente quando se verificam indícios de irregularidades, da mesma forma que faz em relação a toda Administração Pública, direta e indireta. A diferença é que o controle do Ministério Público sobre as fundações instituídas pelos particulares é bem mais rígido; elas são efetivamente " veladas" pelo Ministério Público, que atua como uma espécie de curador das fundações privadas . Estas têm o dever de prestar satisfação permanente de suas atividades, independentemente de suspeitas de irregularidades, necessitando, inclusive, obter autorização prévia do Ministério Público para a prática de determinados atos.
Autores como Hely Lopes Meireles e Lucas Furtado entendem que a forma de fiscalização que o Ministério Público exerce de forma sistemática sobre as fundações privadas também deve alcançar as fundações públicas de direito privado, as quais ficariam sujeitas, simultaneamente, à fiscalização ordinária e à curadoria do Ministério Público, assim como à supervisão ministerial.
Ademais, contrariamente ao entendimento doutrinário dominante, o STF já decidiu que o Ministério Público Federal deve velar pelas fundações federais de direito público (ADI 2.794).
23. (Cespe - AGU) A propósito da veladura das fundações pelo Ministério Público, julgue os itens seguintes. De acordo com o STF, cabe ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios velar pelas fundações públicas e de direito privado em funcionamento no DF, sem prejuízo da atribuição, ao Ministério Público Federal, da veladura das fundações federais de direito público que funcionem, ou não, no DF ou nos eventuais territórios.
Comentário: O quesito está correto, nos termos da decisão adotada pelo STF na ADI 2.794. Nesse julgado, a Suprema Corte decidiu que o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios deve exercer a mesma competência reservada ao MP dos Estados e, em consequência, velar pelas fundações de direito privado que funcionem no território sob jurisdição, vale dizer, no DF ou em Territórios Federais. Quanto às fundações federais de direito público, a competência é do MP Federal, quer funcionem ou não no DF ou nos eventuais Territórios. Em suma, para a prova devemos levar o seguinte:
Gabarito: Certo
Foro judicial competente
No que concerne às fundações públicas de direito público, a competência de foro para os litígios judiciais segue a regra aplicável às autarquias, ou seja, tratando-se de fundação de direito público federal, seus litígios serão dirimidos na Justiça Federal , inclusive aqueles que decorram da relação estatuária entre a fundação e seus servidores. No caso de fundações de direito público estaduais e municipais, o foro é a Justiça Estadual ³².
Fonte:
³² Ver RE 215.741/SE
Caso se trate de fundação pública de direito privado, a doutrina entende que, seja qual for a esfera a que esteja vinculada (federal, estadual ou municipal), a regra de foro é a comum para as pessoas privadas, ou seja, a Justiça Estadual. Porém, a jurisprudência tem entendimento diverso relativamente às fundações públicas federais de direito privado, podendo-se encontrar diversas decisões indicando que tais entidades têm foro na Justiça Federal³³.
Fonte:
³³ Ver, por exemplo, as decisões do STJ no CC 37,681/SC. e no CC 16,397/RL
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