SUMÁRIO
1) COESÃO E COERÊNCIA.
2) QUANDO NÃO HÁ COERÊNCIA TEXTUAL:
3) AMBIGUIDADE
“Quando penso que cheguei ao meu limite, descubro que tenho forças para ir além”.
Ayrton Senna
COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAL
O que é para você algo incoerente? Imagine uma pessoa que se diz contra o uso e bebidas alcoólicas, mas é vista bebendo ‘todas’ em um bar? Atitude incoerente não é? Agora imagine quem diz gostar muito de animais e é isto batendo em um cachorro... incoerente!!! Podemos levar esse raciocínio para o estudo da linguagem, um texto incoerente é aquele que não faz sentido, que perdeu o nexo por algum problema interno de remissão, uso dos conectivos ou até mesmo semântico.
A coesão diz respeito ao modo como ligamos os elementos textuais numa sequência; a coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos elementos textuais.
É fácil perceber que um texto não é coerente, isso ocorre quando ele não faz sentido! Ou quando começa falando sobre um assunto ou aspecto e muda completamente sem aviso prévio. Já a falta de coesão nem sempre é percebida pelo falante, pode ser um problema de regência ou de concordância, por exemplo.
Vejam:
Os menino chegou, vamo começar!
Essa é uma fala comum na variante social da língua. Tenho certeza de que, em algum momento, você já ouviu algo parecido. O fato é que essa fala está cheia de problemas de coesão (concordância, formação de palavra...), mas está gramatical, está coerente, mesmo fora do padrão normativo da Língua Portuguesa.
Agora veja outro exemplo:
A Joana não estuda nesta escola.
Ela não sabe qual é a escola mais antiga da cidade.
Esta escola tem um jardim.
A escola não tem laboratório de línguas.
O termo “escola” é comum a todas as frases, e o nome “Joana” foi substituído por pronome, contudo, tais não são suficientes para formar um texto, uma vez que não possuímos as relações de sentido que unificam a sequência, apesar da coesão individual das frases encadeadas (mas divorciadas semanticamente).
A coerência não é independente do contexto no qual o texto está inscrito, isto é, não podemos ignorar fatores como o autor, o leitor, o espaço, a história, o tempo etc.
Vejamos o exemplo seguinte:
O velho abutre alisa as suas penas.
É um verso de Sophia de Mello Breyner Andresen que só pode ser compreendido uma vez contextualizado (pertence ao conjunto “As Grades”, in Livro Sexto, 1962): o “velho abutre” é uma metáfora sutil para designar o ditador fascista Salazar. Não é o conhecimento da língua que nos permite saber isto, mas o conhecimento da cultura portuguesa.
Agora, alunos, nem sempre a relação entre coesão e coerência segue um padrão, por exemplo, leia o texto a seguir:
Circuito Fechado
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis.
Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
(Ricardo Ramos)
Inicialmente, o texto lido parece ser apenas um amontoado de palavras soltas, mas, ao lermos mais atentamente, percebemos que não é. Embora fuja do padrão da língua, com uso de verbos, substantivos, adjetivos, enfim, de todas as classes gramaticais conjugadas, o texto Circuito Fechado é uma história que representa o dia de um homem, ainda que sua estrutura seja composta apenas por substantivos.
Atenção!
O texto em questão é um exemplo de uso dos SUBSTANTIVOS (nomeiam as coisas) como recurso de coerência textual, pois, se observar bem, o texto “circuito fechado” é inteiro formado por tal classe gramatical.
Quando falamos o nome de alguma coisa, isso nos remete a alguma ação que possa ser realizada com o objeto, por exemplo, com os substantivos “Cigarro e fósforo”, que aparecem diversas vezes do texto, entendemos que o personagem fez uma pausa para fumar um cigarro. Entendemos ainda, pela repetição da ação proposta pelos substantivos, que isso é um vício, que ele fuma bastante!
Viram só como os substantivos podem ser recursos para estabelecer coerência textual?
É possível haver um texto sem coesão, mas coerente?
Sim!!! Vejam o exemplo do texto a seguir:
Menino venha pra dentro, olhe o sereno! Vá lavar essa mão. Já escovou os dentes? Tome a bênção a seu pai. Já pra cama!
Onde é que aprendeu isso, menino? Coisa mais feia. Tome modos. Hoje você fica sem sobremesa. Onde é que você estava? Agora chega, menino, tenha santa paciência.
De quem você gosta mais, do papai ou da mamãe? Isso, assim que eu gosto: menino educado, obediente. Está vendo? É só a gente falar. Desça daí, menino! Me prega cada susto... Pare com isso! Jogue isso fora. Uma boa surra dava jeito nisso. Que é que você andou arranjando? Quem lhe ensinou esses modos? Passe pra dentro. Isso não é gente para ficar andando com você.
Avise a seu pai que o jantar está na mesa. Você prometeu, tem de cumprir. Que é que você vai ser quando crescer? Não, chega: você já repetiu duas vezes. Por que você está quieto aí? Alguma você está tramando... Não ande descalço, já disse! Vá calçar o sapato. Já tomou o remédio? Tem de comer tudo: você acaba virando um palito. Quantas vezes já lhe disse para não mexer aqui? Esse barulho, menino! Seu pai está dormindo. Pare com essa correria dentro de casa, vá brincar lá fora. Você vai acabar caindo daí. Peça licença a seu pai primeiro. Isso é maneira de responder a sua irmã? Se não fizer, fica de castigo. Segure o garfo direito. Ponha a camisa pra dentro da calça. Fica perguntando, tudo você quer saber! Isso é conversa de gente grande. Depois eu dou. Depois eu deixo. Depois eu levo. Depois eu conto.
Agora deixa seu pai descansar - ele está cansado, trabalhou o dia todo. Você precisa ser muito bonzinho com ele, meu filho. Ele gosta tanto de você. Tudo que ele faz é para o seu bem. Olhe aí, vestiu essa roupa agorinha mesmo, já está toda suja. Fez seus deveres? Você vai chegar atrasado. Chora não, filhinho, mamãe está aqui com você. Nosso Senhor não vai deixar doer mais.
Quando você for grande, você também vai poder. Já disse que não, e não, e não! Ah, é assim? Pois você vai ver só quando seu pai chegar. Não fale de boca cheia. Junte a comida no meio do prato. Por causa disso é preciso gritar? Seja homem. Você ainda é muito pequeno para saber essas coisas. Mamãe tem muito orgulho de você. Cale essa boca! Você precisa cortar esse cabelo.
Sorvete não pode, você está resfriado. Não sei como você tem coragem de fazer assim com sua mãe. Se você comer agora, depois não janta. Assim você se machuca. Deixa de fita. Um menino desse tamanho, que é que os outros hão de dizer? Você queria que fizessem o mesmo com você? Continua assim que eu lhe dou umas palmadas. Pensa que a gente tem dinheiro para jogar fora? Tome juízo, menino.
Ganhou agora mesmo e já acabou de quebrar. Que é que você vai querer no dia de seus anos? Agora não, que eu tenho o que fazer. Não fique triste não, depois mamãe dá outro. Você teve saudades de mim? Vou contar só mais uma, que está na hora de dormir. Agora dorme, filhinho. Dê um beijo aqui - Papai do Céu lhe abençoe. Este menino, meu Deus...
(Menino, de Fernando Sabino).
O texto de Fernando Sabino é perfeitamente compreensível, mas nele encontramos diversas frases soltas, sem os conectivos necessários que garantiriam a coesão textual. O texto é coerente, mas não é coeso.
De maneira bem simples, podemos dizer que coerência e coesão é o que faz a diferença entre um texto e um amontoado de palavras sem nexo.
Esclarecendo!
Coesão textual são as conexões gramaticais existentes entre palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores de um texto.
As palavras que realizam essas articulações gramaticais são chamadas de conectores. São eles: substantivos, pronomes, conjunções, preposições etc.
Ainda são comuns nessa função palavras como isso, então, aliás, também, isto é, entretanto, e, por isso, daí, porém, mas.
Coerência textual é a estruturação lógico-semântica de um texto, isto é, a articulação de ideias que faz com que, numa situação discursiva, palavras e frases componham um todo significativo. Esse todo pode ser um texto, um discurso etc.
A REMISSÃO
Uma das modalidades de coesão é a remissão. Ela ocorre de duas maneiras: remissão anafórica ou catafórica, formando-se cadeias coesivas mais ou menos longas. É a maneira como construímos um texto, como fazemos a progressão textual de maneira coerente.
A remissão ou referenciação pode ser endofórica, ou seja, textual, refere-se a elementos que estão no texto. Essa referenciação pode, ainda, subdividir-se em:
Anafórica (para trás): realiza-se por meio de pronomes pessoais de 3ª pessoa (retos e oblíquos) e os demais pronomes; também por numerais, advérbios e artigos.
Exemplo: André e Pedro são fanáticos torcedores de futebol. Apesar disso, são diferentes. Este não briga com quem torce para outro time; aquele o faz.
O termo isso retoma o predicado são fanáticos torcedores de futebol; este recupera a palavra Pedro; aquele, o termo André; o faz, o predicado briga com quem torce para o outro time - são todos anafóricos, retomam algo já citado.
Catafórica (para a frente): realiza-se normalmente através de pronomes demonstrativos ou indefinidos neutros, ou de nomes genéricos, mas pode ocorrer também com os outros pronomes, advérbios e numerais.
Exemplo: Qualquer que tivesse sido seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara pesadamente a ensinar no cu n traídos.
O pronome possessivo seu e o pronome pessoal reto ele antecipam a expressão o professor - são catafóricos. Existe ainda a remissão que é feita através de elementos que estão externos ao texto, é a chamada exofórica. Em todo texto encontramos circunstâncias situacionais, ou seja, ele se desenvolve em um lugar, num determinado tempo, há participantes – locutor e interlocutor. Se pararmos para observar, veremos que essas circunstâncias situacionais estão no texto através do emprego de palavras “vazias”, palavras que só adquirem significado quando associadas a um referente, que pode estar no próprio texto, como já vimos (referenciação textual – Endofórica), ou fora dele, referenciação extratextual ou Exofórica.
“Coisas que você precisa saber antes de viajar para o exterior”
Observe que a palavra você marca um interlocutor, ou seja, a segunda pessoa do discurso, mas quem é? O leitor é claro! Como ele está fora do texto é, portanto, uma referência extratextual – Exofórica.
As palavras que se preenchem de significado por meio de referências extratextuais são consideradas dêiticas, pois remetem às circunstâncias situacionais do processo de comunicação (mais detalhes na aula sobre pronomes).
Itens que podem funcionar como dêiticos.
Pronomes pessoais:
eu – falante
você - interlocutor
nós – falante e interlocutor
Pronomes demonstrativos:
Este, esta, estes, estas, isto – aponta para algo que está perto do falante
Esse, essa, esses, essas, isso – aposta para algo que está perto do interlocutor
Circunstâncias de lugar:
Advérbios: aqui, lá, acolá, ali, aí
Locuções adverbiais: neste lugar, naquele lugar etc.
Circunstâncias de tempo:
Hoje, amanhã, agora, ontem, neste momento, daqui a um mês etc.
Tempos verbais:
Presente – simultaneidade com o momento do processo de comunicação.
Pretérito – anterioridade com relação ao momento do processo de comunicação.
Futuro – posterioridade com relação ao momento do processo de comunicação.
Esclarecendo!
“A saga do rapto de Helena e a subsequente Guerra de Troia continuam sendo um dos melhores exemplos dos perigos da luxúria. No todo, a história sugere quão imprudente é para um hóspede na casa de um homem levar consigo, ao partir, a esposa do anfitrião. Acrescentamos a esse erro crasso a dupla idiotice da raiva e da inveja, agravadas quando o marido abandonado, Menelau, insistiu nos direitos de um velho tratado e arrastou todo o seu reino e os dos vizinhos em missão de vingança. Muitos deles demoraram quase vinte anos na guerra e no retorno, para não falar na maioria que morreu, deixando os lares e as famílias no desamparo e na ruína – mal sobrevivendo, sugerem os registros, a assédios diversos e a desastres naturais.”
(Menelau e a esposa perdida, Stephen Weir)
1.(TJ/BA – Analista Judiciário – Adaptada) no texto, os elementos sublinhados se referem a termos anteriores; a correspondência identificada corretamente é:
I. consigo / um hóspede;
II. esse erro / a imprudência de Helena;
III. seu / do hóspede;
IV. os / os erros;
V. que / muitos deles.
Comentário: vamos reler o texto, marcando na mesma cor o antecedente do termo grifado. Trata-se de remissão textual endofórica entre os termos.
“A saga do rapto de Helena e a subsequente Guerra de Troia continuam sendo um dos melhores exemplos dos perigos da luxúria. No todo, a história sugere quão imprudente é para um hóspede na casa de um homem levar consigo, ao partir, a esposa do anfitrião. Acrescentamos a esse erro crasso a dupla idiotice da raiva e da inveja, agravadas quando o marido abandonado, Menelau, insistiu nos direitos de um velho tratado e arrastou todo o seu reino e os dos vizinhos em missão de vingança. Muitos deles demoraram quase vinte anos na guerra e no retorno, para não falar na maioria que morreu, deixando os lares e as famílias no desamparo e na ruína – mal sobrevivendo, sugerem os registros, a assédios diversos e a desastres naturais.”
Consigo = um hóspede
Esse erro = um hóspede na casa de um homem levar consigo, ao partir, a
esposa do anfitrião
Seu = Marido abandonado, Menelau
Os = reino
Que = maioria
GABARITO: alternativa I
EM RESUMO:
De que trata a coerência textual? Da relação que se estabelece entre as diversas partes do texto, criando uma unidade de sentido. Está, portanto, ligada ao entendimento, à possibilidade de interpretação daquilo que se ouve ou lê.
A remissão é feita através de diversos conectivos, além do uso dos pronomes, que garantem a unidade semântica do texto. A ligação das orações também precisa ser feita de maneira coesa. A seguir, analise um quadro demonstrativo dos principais conectivos:
Seria coerente dizer:
Lavei todo o quintal, mas continua mal cheiroso.
O conectivo MAS cumpre a função de promover ideia de oposição. Agora, se tal conectivo for substituído por de tal forma que, a coesão se perde e o sentido da frase também:
Lavei todo o quintal, de tal forma que continua mal cheiroso.
QUANDO NÃO HÁ COERÊNCIA TEXTUAL: AMBIGUIDADE
Quando falamos de linguagem escrita ou falada, a primeira coisa sobre a qual se pensa é a clareza textual. Toda e qualquer interlocução, seja no plano da fala, seja no da escrita, somente se torna materializada se estiver clara, objetiva e precisa.
E quando tal clareza não ocorre? Caso ela não ocorra, podemos dizer que alguns entraves desempenharam sua cota de participação na hora da comunicação, e acredite: são vários os que se manifestam nesse sentido. Um deles, representando literalmente tal aspecto, é expresso pela ambiguidade que é ocasionada pelo emprego inadequado de alguns pronomes, mais especificamente, os possessivos. Assim sendo, como fator resultante dessa (a ambiguidade), temos uma dupla interpretação daquilo que foi proferido, dificultando o entendimento da mensagem.
Ambiguidade: dupla interpretação daquilo que foi falado ou escrito, dificultando o entendimento da mensagem.
Para ilustrar, um exemplo:
Tão logo se encontrou com Marcela, Paulo fez comentários acerca de seus excelentes resultados nas provas finais.
A falta de clareza na mensagem tem origem no uso do pronome possessivo “seus” (cuidado com ele!!), pois os comentários feitos por Paulo podem estar se referindo aos resultados de Marcela, aos resultados dele ou até mesmo aos resultados de ambos. De quem foram os excelentes resultados?
Como então decifrar do que se trata? Parece um pouco confuso, não?
Nesse sentido, a língua portuguesa oferece-nos vários recursos para que possamos construir nosso discurso com eficácia e precisão, evitando manifestações como essa, permitindo assim que a interlocução seja materializada de forma plausível. Para tanto, em vez de empregarmos o referido pronome, podemos utilizar outros, que também são possessivos, representados por dele(s) e dela(s). Dessa forma, só nos resta fazer as devidas alterações nos enunciados que nos serviram de exemplos, uma vez manifestadas por:
Tão logo se encontrou com Marcela, Paulo fez comentários acerca dos excelentes resultados dele nas provas finais.
Tão logo se encontrou com Marcela, Paulo fez comentários acerca dos excelentes resultados dela nas provas finais.
Tão logo se encontrou com Marcela, Paulo fez comentários acerca dos excelentes resultados deles nas provas finais.
2. (TRT-PE – AJAA - FCC) Está plenamente adequado o emprego de ambas as expressões sublinhadas na frase:
(A) Há vocábulos estrangeiros em cujo emprego se faz desnecessário, uma vez que nossa língua conta com termos de que o sentido traduz plenamente o daqueles.
(B) O abuso no emprego de estrangeirismos, ao qual o autor se bate, é um mal em cujo reconhecimento pouca gente é capaz.
(C) Nossas exportações de café, às quais tanto devemos, levaram a outros países um hábito cujo cultivo tornou-se parte de nossa identidade.
(D) Um hábito ridículo, do qual muita gente se curva, está no empregoabusivo de palavras estrangeiras, nas quais se atribui um prestígio maior.
(E) Há expressões estrangeiras, como “shopping center”, onde o uso se justifica plenamente, uma vez que nomeiam realidades em que o estabelecimento se deu em outros países.
Comentário: levando em conta que o pronome ‘cujo’ somente é utilizado no sentido de posse, fazendo referência ao termo antecedente e ao substantivo subsequente e que ele deve aparecer antecedido de preposição sempre que a regência dos termos posteriores exigir; considerando também que o pronome ‘qual’ faz referência a pessoa ou coisa e que deve aparecer antecedido de preposição sempre que a regência dos termos posteriores exigir, prossigamos com os comentários.
Na opção A, o primeiro termo em cujo não está correto, nesse caso deveria ocorrer de cujo, pois o termo “emprego” exige a preposição de.
Na alternativa B, os dois termos sublinhados estão incorretos, o primeiro, ao qual, deveria ser no qual, já que o verbo bater, nesse contexto, exige preposição em; também a expressão em cujo está errada, uma vez que o termo reconhecimento rege a preposição de.
Ambos os termos sublinhados na opção D estão incorretos, ou seja, em lugar de do qual deveria haver ao qual, devido à expressão curvar-se, que exige a preposição a, nesse caso.
O termo onde, na alternativa E, está adotado incorretamente, pois seu uso só é permitido para indicar local, lugar, nesse contexto deveria ocorrer em que; a expressão em que deveria ser substituída por cujo.
Gabarito: C
Proteção, sim; violação de privacidade, não. Esse é o desejo dos consumidores brasileiros que navegam na Internet. E esse é o mote – mais que o mote, o alerta – que orienta a campanha lançada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) na última terça-feira, contra o Projeto de Lei 84/99, que trata de crimes cibernéticos.
A campanha “Consumidores contra o PL Azeredo” pretende chamar a atenção da sociedade para a ameaça que o PL 84 representa ao direito à privacidade e liberdade na rede, aos direitos dos consumidores no acesso aos produtos e serviços e no direito fundamental de acesso à cultura, à informação e à comunicação.
No Congresso desde 1999, o PL 84/99 segue na Câmara dos Deputados nos termos do texto substitutivo proposto pelo deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG). O PL Azeredo tramita em caráter de urgência na Casa e está prestes a ser votado no início de agosto, quando termina o recesso parlamentar. Se aprovado, desviando-se de sua pretensa função de combater os crimes na Internet, o projeto vai instaurar um cenário de vigilância e monitoramento na rede, restringindo sensivelmente os direitos e liberdades e criminalizando condutas que são cotidianas dos cidadãos no mundo virtual.
Para os consumidores, a aprovação do projeto traz consequências drásticas, especialmente se considerarmos que a Internet é inteiramente permeada por relações de consumo. Desde a conexão até o acesso a conteúdos em sites, produtos e serviços via comércio eletrônico, passando pela utilização de e-mails, plataformas colaborativas e redes sociais, em menor ou maior grau, tudo é relação de consumo e deve ser entendido na lógica da defesa dos direitos consagrados pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).
Há 20 anos, esse mesmo CDC tenta fazer valer um de seus princípios básicos: a boa-fé. Pressupõe-se que todos são legítimos titulares de direitos e praticam seus atos cotidianos com base na legalidade, na confiança e no respeito. Por óbvio, essa premissa é válida também para a Internet. O que o PL Azeredo faz, no entanto, é inverter essa lógica. No lugar da presunção da boa-fé, instaura-se a constante suspeita. No lugar do respeito à privacidade dos dados e informações dos usuários, o projeto determina a sua vigilância constante, como se a qualquer momento fossem praticar um crime, um ato de vandalismo, uma atitude ilícita. Para o PL Azeredo, como norma penal que é, na Internet todos passam a ser suspeitos até que se prove o contrário.
(Guilherme Varella, Carta Capital. 28/07/11)
3. (Prefeitura de Uberlândia – Advogado – Consulplan) De acordo com o texto, o Projeto de Lei 84/99:
a) determina o acesso irrestrito a produtos e serviços virtuais.
b) atende ao clamor público de que seja instituída uma proteção virtual.
c) é incentivado pela campanha: Proteção, sim; violação à privacidade, não.
d) impõe limites no mundo virtual desconsiderando o respeito à privacidade.
e) está de acordo com a lógica de defesa dos direitos consagrados pelo CDC.
Comentário: vamos analisar as alternativas para encontrar aquela mais completa com relação ao que se diz no texto:
a) determina o acesso irrestrito a produtos e serviços virtuais. – ERRADA.
Em momento algum o texto diz que o projeto de Lei determina acesso irrestrito a produtos e serviços virtuais.
b) atende ao clamor público de que seja instituída uma proteção virtual. – ERRADA. Não existe tal clamor público.
c) é incentivado pela campanha: Proteção, sim; violação à privacidade, não. – ERRADA. Ao contrário, não é incentivado, é criticado. Além disso, “Proteção, sim; violação à privacidade, não.” Não é uma campanha, é a tese do autor.
d) impõe limites no mundo virtual desconsiderando o respeito à
privacidade. – CORRETA. Podemos comprovar isso relendo os trechos do
segundo e terceiro parágrafos:
“A campanha ‘Consumidores contra o PL Azeredo’ pretende chamar a atenção da sociedade para a ameaça que o PL 84 representa ao direito à privacidade e liberdade na rede, aos direitos dos consumidores no acesso aos produtos e serviços e no direito fundamental de acesso à cultura, à informação e à comunicação”
“Se aprovado, desviando-se de sua pretensa função de combater os crimes na Internet, o projeto vai instaurar um cenário de vigilância e monitoramento na rede, restringindo sensivelmente os direitos e liberdades e criminalizando condutas que são cotidianas dos cidadãos no mundo virtual”.
e) está de acordo com a lógica de defesa dos direitos consagrados pelo CDC. – ERRADA. Ao contrário, o autor argumenta que o Projeto de Lei NÃO está de acordo com a lógica de defesa dos direitos consagrados pelo CDC.
GABARITO: D
4. (Prefeitura de Uberlândia – 2011 – Advogado – Consulplan) Na frase “Proteção, sim; violação de privacidade, não”, há uma indicação de
a) ideia de concessão.
b) motivo e finalidade.
c) oposição de ideias.
d) causa e consequência.
e) ideias que se completam.
Comentário: trata-se de um texto argumentativo com tese explicitada logo no primeiro período: “Proteção, sim; violação de privacidade, não”. O autor deixa claro que a proteção é importante, mas sem exageros.
Notem que “proteção”, nesse contexto, é o contrário de “violação de privacidade”, por isso podemos dizer que a frase marca uma oposição de ideias, tanto que poderíamos reescrevê-la utilizando uma conjunção adversativa: proteção sim, mas sem violação de privacidade.
GABARITO: C
5. (Prefeitura de Uberlândia – Advogado – Consulplan) Assinale o elemento de coesão textual destacado que tem o seu referente corretamente identificado.
a) “Esse é o desejo dos consumidores...” – Proteção, sim; violação de privacidade, não
b) “E esse é o mote...” – Internet
c) “Por óbvio, essa premissa é válida...” – defesa dos direitos
d) “... e praticam seus atos cotidianos...” – direitos
e) “... é inverter essa lógica.” – validade da Internet
Comentário: um elemento importantíssimo de coesão textual é o pronome. Ele deve estar em perfeita harmonia com seu antecedente, fazendo a remissão de maneira adequada.
Para encontrarmos a resposta correta, vamos analisar cada alternativa:
a) “Esse é o desejo dos consumidores...” – Proteção, sim; violação de privacidade, não CORRETA, veja:
“Proteção, sim; violação de privacidade, não. Esse é o desejo dos consumidores brasileiros...”
b) “E esse é o mote...” – Internet ERRADO, veja no trecho abaixo que o “esse” refere-se a “Proteção, sim; violação de privacidade, não”
“Proteção, sim; violação de privacidade, não. Esse é o desejo dos consumidores brasileiros que navegam na Internet. E esse é o mote – mais que o mote, o alerta...”
c) “Por óbvio, essa premissa é válida...” – defesa dos direitos ERRADA. O pronome “essa” refere-se, na verdade, à presunção de que todos são legítimos de direitos e praticam seus hábitos cotidianos pautados na legitimidade, na confiança e no respeito, conforme consta no último parágrafo.
d) “... e praticam seus atos cotidianos...” – direitos ERRADA. O pronome “seus” refere-se aos atos cotidianos de todos.
e) “... é inverter essa lógica.” – validade da Internet ERRADA. O termo “essa lógica” refere-se à lógica de se pressupor que “todos são legítimos de direitos e praticam seus hábitos cotidianos pautados na legitimidade, na confiança e no respeito.”.
GABARITO: A
6. (Prefeitura de Uberlândia – Advogado – Consulplan) No 3º§, ao falar do PL 84, quanto à sua aprovação, está expressa uma ideia de a) finalidade.
b) condição.
c) acréscimo.
d) tempo.
e) explicação.
Comentário: vamos reler o terceiro parágrafo:
No Congresso desde 1999, o PL 84/99 segue na Câmara dos Deputados nos termos do texto substitutivo proposto pelo deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG). O PL Azeredo tramita em caráter de urgência na Casa e está prestes a ser votado no início de agosto, quando termina o recesso parlamentar. Se aprovado, desviando-se de sua pretensa função de combater os crimes na Internet, o projeto vai instaurar um cenário de vigilância e monitoramento na rede, restringindo sensivelmente os direitos e liberdades e criminalizando condutas que são cotidianas dos cidadãos no mundo virtual”.
A conjunção “se” expressa condição, dando sentido para a ideia de que a Lei ainda seria votada podendo ser ou não aprovada.
GABARITO: B
Leia:
Quando a gente olha para os oceanos, para os rios e lagos, a Terra parece ter muita água. Quase 3/4 da superfície são cobertos por oceanos, de acordo com o planeta azul visto do espaço. Mas será que é tudo isso?
Na realidade, a camada de água dos oceanos é fina e, por isso, a quantidade de água é relativamente pequena. Se a Terra fosse do tamanho de uma bola de basquete, toda a água do planeta caberia dentro de uma bolinha de ping pong. E mais: dessa bolinha de ping pong, quase tudo, 97,5% é água salgada. E, desse pouquinho que sobra, 70% é agua congelada nos polos e nas geleiras, 30% está debaixo da Terra e apenas 0,3% é água potável, acessível nos lagos e rios.
E essa água está mal distribuída. Sobra em algumas regiões e falta em outras. Soma a isso o fato de várias regiões do mundo estarem passando por secas mais prolongadas, como o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que está entrando no quarto ano seguido de seca.
O ano de 2013 foi o mais seco em 120 anos, diz o climatologista do governo americano, Michael Anderson. Ele prevê para este ano um novo recorde de pouca chuva e altas temperaturas. O nível dos reservatórios baixou. Paul Boyer, da Self-Help Enterprises diz que o lençol de água subterrânea, que deveria ter subido nos primeiros meses do ano, ficou estático. Para ele, a crise ainda vai piorar antes de melhorar.
A situação também pode piorar no Nordeste brasileiro. Em São Miguel, Rio Grande do Norte, cidade de 23 mil habitantes, ninguém recebe mais conta de água porque ela acabou em dezembro passado, quando o açude secou. Desde que a água encanada acabou, a cidade se movimenta basicamente em torno de um objetivo: conseguir água, vender e comprar água, transportar água, carregar baldes d’água, situação que deve se manter por um bom tempo porque as autoridades locais não estão vendo uma solução em curto prazo.
A crise também bateu na porta da rica região Sudeste do Brasil. Os dois maiores reservatórios que atendem a Grande São Paulo, Cantareira e Alto Tietê, estão com níveis críticos. O Cantareira, o mais importante deles, entrou no volume morto em maio do ano passado e nunca mais saiu. O presidente da Agência Nacional de Água (ANA), Vicente Andreu Guillo, reconhece que o Brasil tem um nível muito baixo de água reservada e reclama que a legislação ambiental pouco flexível não ajuda.
Cingapura não cometeu esse erro. Conservando água, uma ilha pequena que era pobre quando pertencia à Malásia, hoje é uma cidade-estado rica e high tech. À época da Independência, 50 anos atrás, a maior parte da água consumida em Cingapura era importada da Malásia, que fica do outro lado.
Hoje, a cidade-estado tem reservatórios que satisfazem às suas necessidades.
Atualmente a escassez de água afeta mais de 40% da população do nosso planeta, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Ela prevê que, até 2025, ou seja, em apenas 10 anos, 1,8 bilhão de pessoas estarão vivendo em países ou regiões com absoluta escassez de água.
(Extraído e adaptado de: http://g1.globo.com/hora1/noticia/2015/08/. Acesso em: 31/08/2015)
7. (CRESS-PB – Assistente social – CONSULPLAN) Assinale a opção em que consta o título do texto.
a) Má distribuição e seca prolongada agravam o problema da falta de água.
b) O mapa da seca no Brasil: estudo de caso.
c) O problema das políticas públicas de gestão das águas.
d) Aquecimento global: o ônus das secas prolongadas.
Comentário: atentem para o fato de que o texto não fala apenas da seca no Brasil, aponta para o problema em outros países. Isso elimina a alternativa B. Não foi colocada em foco a gestão das águas, menos ainda as políticas públicas foram discutidas para que a alternativa C configurasse o título do texto. O aquecimento global não está no centro do assunto, como sugere a alternativa D. A alternativa A traz o título do texto, pois resume a ideia proposta da escassez crescente dos recursos hídricos no mundo.
GABARITO: A
8. (CRESS-PB – Assistente social – CONSULPLAN) Aponte a opção em que consta, por ordem de relevância, o eixo temático do texto.
a) Seca, efeitos do aquecimento global, legislação ambiental.
b) Seca, má distribuição da água, legislação ambiental.
c) Legislação ambiental, seca, má distribuição da água.
d) Má distribuição da água, seca, legislação ambiental.
Comentário: a questão pede o que aparece no texto por ordem de relevância, ou seja, de importância, não por ordem sequencial. Dessa forma, percebemos que o eixo temático do texto gira, primeiramente, em torno da seca e depois da má distribuição da água.
GABARITO: B
9. (CRESS-PB – Assistente social – CONSULPLAN) Na figura acima, há uma estratégia linguística que contribui para a elaboração do sentido no texto, identifique-a.
a) O emprego das palavras “seca” e “cerca”, quase homófonas, contribui para um efeito em que se neutralizariam, porém o significado de “cerca”, como delimitação da propriedade privada, dos ricos, confere uma orientação argumentativa contrária ao efeito da homofonia.
b) A imagem do chão batido, rachado, com o mandacaru, símbolo da resistência do povo do Nordeste, oferece um contraste relativo ao outro lado
da cerca, representando o fato de haver seca no Nordeste, mas não noSudeste.
c) O fato de utilizar “seca” e “cerca” não oferece, pela imagem, uma leitura adequada.
d) A utilização de um ponto exclamativo ao final da oração funciona de modo a demonstrar a inviabilidade de continuar distribuindo de modo injusto a água no planeta.
Comentário: existe uma relação coerente entre imagem e texto que nos permite compreender o significado da charge. As palavras “seca” e “cerca” são parônimas, ou seja, possuem pronúncia e grafia parecidas. São quase homófonas, pois o som é bem parecido. Mas, apesar disso, levando em consideração que a cerca separa, segrega, divide ricos e pobres, podemos entender a interpretação estimulada de que não há nada de parecido entre as duas palavras.
GABARITO: A
[...] Entrevistador – Como você vê o papel do escritor em um país como o Brasil?
*João Antônio – Para mim, o escritor, enquanto escreve, é exclusivamente um escritor – operário da palavra queimando olhos e criando corcunda sobre o papel e a máquina. Pronto o livro, o autor brasileiro não deve fugir à realidade de que é um vendedor, como um vendedor de cebolas ou batatas. Mas com uma diferença, é claro: no Brasil o livro não é considerado como produto de primeira necessidade, como os cereais. Também por isso, há de se sair a campo e de se divulgar o que se sabe fazer. Efetivamente, é mais do que um camelô de sua área: conversa sobre a obra, mas o ideal é que ouça muito o seu parceiro, o leitor. Que jamais se estabeleça um clima formal, doutoral, beletrístico, mas de debate, discussão, questionamento, amizade. Se o escritor se enclausura numa torre, se atende apenas à onda geral da feira de vaidades que é a chamada vida literária, jamais poderá sentir a realidade de seu público.
(ANTÔNIO, João. Malagueta, Perus e Bacanaço. São Paulo: Ática, 1998. Fragmento.)
*João Antônio Ferreira Filho (1937-1996), escritor paulista, é considerado um dos melhores contistas brasileiros do século XX.
10. (TJ/MG - Estagiário – CONSULPLAN) A resposta dada pelo escritor tem como ponto central, em torno do qual gravita sua argumentação:
A) A interação entre escritor e leitor.
B) Benefícios da leitura na sociedade brasileira.
C) A necessidade do reconhecimento da importância do livro.
D) Traços fundamentais da cultura brasileira através dos tempos.
Comentário:
A argumentação do autor é baseada na forma como deve ser a interação entre o escritor e o leitor, como podemos verificar no trecho: “...mas o ideal é que ouça muito o seu parceiro, o leitor. Que jamais se estabeleça um clima formal, doutoral, beletrístico, mas de debate, discussão, questionamento, amizade.”
Gabarito: A
11. (TJ/MG - Estagiário – CONSULPLAN) Em sua resposta, o entrevistado utiliza-se de um recurso de expressão para referir-se ao escritor em que
A) há uma aparente contradição entre conceitos distintos.
B) a construção do discurso apresenta ambiguidade, se analisada de forma criteriosa.
C) é possível identificar o emprego de vocábulos indicadores de regionalismo linguístico.
D) o raciocínio é construído pela projeção de analogias entre domínios, distintos, da experiência.
Comentário:
É feita, através da expressão “operário da máquina”, uma analogia entre a profissão de escritor e a profissão de operário, que têm como semelhança a ideia de que ambos são meros trabalhadores.
Gabarito: D
12. (TJ/MG - Estagiário – CONSULPLAN) Em “Mas com uma diferença, é claro: no Brasil o livro não é considerado como produto de primeira necessidade, como os cereais.”, a adequação gramatical normativa seria mantida se
A) após “cereais” fosse acrescentado “o são”.
B) após “cereais” fosse acrescentado “os são”.
C) “não é considerado” fosse substituído por “não são considerados”.
D) “o livro não é considerado” fosse substituído por “não haveriam livros considerados”.
Comentário:
Em “como os cerais” está implícita a expressão “são conhecidos”. Sendo assim, a proposta de alteração da alternativa A está correta.
A proposta da alternativa B não pode ser aceita porque o referente do pronome “os” é “é considerado”, no singular.
Na letra C, o referente de “é considerado” é “o livro”, que está no singular, portanto a alteração não seria possível.
E na letra D, o verbo haver com sentido de existir não é flexionado para o plural.
Gabarito: A
As desigualdades e a questão social
Há processos estruturais que estão na base das desigualdades e antagonismos que constituem a questão social. Dentre esses processos, alguns podem ser lembrados agora. O desenvolvimento extensivo e intensivo do capitalismo, na cidade e no campo, provoca os mais diversos movimentos de trabalhadores, compreendendo indivíduos, famílias, grupos e amplos contingentes. As migrações internas atravessam os campos e as cidades, as regiões e as nações. Movimentam trabalhadores em busca de terra, trabalho, condições de vida, garantias, direitos. A industrialização e a urbanização expandem-se de modo contínuo, por fluxos e refluxos, ou surtos. Assim como ocorre a metropolização dos maiores centros urbano-industriais, também ocorre a abertura e reabertura das fronteiras. Os surtos de atividades agrícolas, pecuárias, extrativas, mineradoras e industriais, ao longo das várias repúblicas, assinalam os mais diversos momentos de populações e negócios, de fatores econômicos ou forças produtivas. As crescentes diversidades sociais estão acompanhadas de crescentes desigualdades sociais. Criam-se e recriam-se as condições de mobilidade social horizontal e vertical, simultaneamente às desigualdades e aos antagonismos. Esse é o contexto em que o emprego, desemprego, subemprego e pauperismo se tornam realidade cotidiana para muitos trabalhadores. As reivindicações, protestos e greves expressam algo deste contexto. Também os movimentos sociais, sindicatos e partidos revelam dimensões da complexidade crescente do jogo das forças sociais que se expandem com os desenvolvimentos extensivos e intensivos do capitalismo na cidade e no campo. [...]
Aos poucos, a história da sociedade parece movimentada por um vasto contingente de operários agrícolas e urbanos, camponeses, empregados e funcionários. São brancos, mulatos, negros, caboclos, índios, japoneses e outros. Conforme a época e o lugar, a questão social mescla aspectos raciais, regionais e culturais, juntamente com os econômicos e políticos. Isto é, o tecido da questão social mescla desigualdades e antagonismos de significação estrutural.
(IANNI, Octavio. Pensamento social no Brasil. Bauru: Edusc, 2004. (com adaptações).
13. (Combatentes – Oficiais - Corpo de Bombeiros Militar/PA – CONSULPLAN) Em um texto, alguns elementos são empregados para que haja articulação entre os enunciados de tal modo que retomam referentes em um texto. Em “Dentre esses processos, alguns podem ser lembrados agora.”
(1º§) o termo “esses” é empregado com tal propósito, estabelecendo uma relação com o que já foi expresso no texto. Dentre os elementos destacados a seguir, pode ser visto como exemplo do mesmo emprego:
A) “As reivindicações, protestos e greves expressam algo deste contexto.” (1º§)
B) “A industrialização e a urbanização expandem-se de modo contínuo, por fluxos e refluxos, ou surtos.” (1º§)
C) “[...] provoca os mais diversos movimentos de trabalhadores, compreendendo indivíduos, famílias, [...]” (1º§)
D) “Esse é o contexto em que o emprego, desemprego, subemprego e pauperismo se tornam realidade [...]” (1º§)
E) “Os surtos de atividades agrícolas, pecuárias, extrativas, mineradoras e industriais, ao longo das várias repúblicas, [...]” (1º§)
Comentário:
Dentre os elementos destacados, o único que está funcionando como elemento de coesão é o “que”, presente na alternativa D. Esse elemento está retomando “contexto”.
Gabarito: D
Questões Propostas de Coesão e Coerência
1. Os trechos abaixo constituem um texto, mas estão desordenados. Ordene-os de forma a comporem um texto coeso e coerente. A seguir, assinale a opção correta.
( ) Com esse objetivo, uma equipe do ISA, composta de 50 integrantes, presta assessoria aos índios sobre questões burocráticas, trabalhos de vigilância e geração de renda, defesa e segurança do território, visando, entre outras coisas, a apoiá-los no desenvolvimento de atividades sustentáveis.
( ) Meio século depois da criação do Parque Indígena do Xingu, os índios provam diariamente sua autonomia. Várias aldeias e etnias se organizaram em associações, que desenvolvem projetos e levantam recursos para resolver questões internas e externas.
( ) O coordenador adjunto do Programa Xingu do Instituto Socioambiental (ISA) informa que o eixo principal de atuação desse Instituto é contribuir para a solução dessas questões e para a efetiva apropriação do parque pelos índios, de modo a evitar que o assédio do mundo externo os induza a práticas prejudiciais ao meio ambiente, como venda de peixes, madeira e areia, em condições ambientais inadequadas.
( ) De 2007 até hoje, já foram vendidas 150 toneladas dessas sementes, empregadas no reflorestamento ao longo dos rios da bacia do Xingu. Além da atuação positiva em favor do meio ambiente, os índios agem de modo cada vez mais eficaz na defesa e segurança do seu território.
( ) Como resultado dessa assessoria e da atitude afirmativa dos xinguanos, estes passaram a comercializar diferentes tipos de pimenta, mel e sementes florestais, com resultados expressivos de geração de renda. Isso é importante, já que, nesse processo, os índios incorporaram bens de consumo ao seu dia a dia e querem dinheiro para comprar, entre outras coisas, roupas, sabão em pó, panela, barco motorizado.
(Adaptado de Planeta/abr.2016, p.22-3.)
a) 3 – 1 – 2 – 5 – 4
b) 4 – 3 – 1 – 5 – 2
c) 5 – 4 – 2 – 3 – 1
d) 2 – 4 – 1 – 3 – 5
e) 3 – 5 – 4 – 2 – 1
2. Os trechos abaixo constituem um texto, mas estão desordenados. Ordene-os de forma a comporem um texto coeso e coerente. A seguir, assinale a opção correta.
( ) A antropologia cultural tem levantado objeções contra Napoleon Chagnon, que defendeu a tese de que ianomâmis são uma relíquia ancestral da espécie humana: selvagens com compulsão pela guerra como forma de obter mulheres, escassas em razão da prática do infanticídio feminino. A controvérsia dura quase meio século. O panorama se turvou de vez em 2000, com a publicação do livro “Trevas no Eldorado”.
( ) Segundo o antropólogo, os ianomâmis foram usados, sem saber, como grupo de controle de estudos sobre efeitos da radiação nuclear no sangue de sobreviventes de bombardeios em Hiroshima e Nagasaki, prática que contraria a ética profissional.
( ) Nele, o jornalista Patrick Tierney acusa Chagnon e o médico James Neel de, em 1968, terem causado uma epidemia de sarampo entre os ianomâmis da Venezuela e experimentado nos índios um tipo de vacina, além de negar-lhes socorro médico. Chagnon e Neel foram depois inocentados.
( ) Bruce Albert, antropólogo e crítico de Chagnon, escreveu sobre a ausência de fundamento das alegações de Thierney, mas nem por isso deixou de assinalar sérios erros éticos cometidos pela dupla.
( ) Em 2013, o antropólogo Marshall Sahlins renunciou à Academia Nacional de Ciências dos EUA, em reação ao ingresso de Chagnon. Em artigo publicado, defendeu que um antropólogo alcança entendimento superior de outros povos quando toma seus integrantes como semelhantes, e não, como objetos naturais “selvagens”, ao modo de Chagnon.
(Adaptado de Folha de S.Paulo, Marcelo Leite, 22/2/2015.)
A sequência correta é
a) 1 – 3 – 4 – 5 – 2.
b) 1 – 4 – 2 – 3 – 5.
c) 5 – 1 – 4 – 2 – 3.
d) 3 – 4 – 5 – 1 – 2.
e) 1 – 4 – 5 – 2 – 3.
3. Assinale a opção em que o trecho preenche de forma coesa e coerente a lacuna do texto a seguir.
a) Contribuirá, além disso, a diminuição das incertezas no campo político. No caso americano, democratas e republicanos chegaram a um denominador comum para o Orçamento, o que reduz o risco de calote da dívida pública.
b) Por causa disso, no geral, os EUA devem liderar a recuperação, com expansão da economia superior a 3% (ante menos de 2% em 2013). A Europa pode avançar perto de 1%, algo relevante após dois anos de recessão.
c) Sua economia deve se expandir em torno de 7%, o que não deixa de ser uma boa notícia, mas o novo padrão não favorece alta nos preços de matérias-primas.
d) Na Europa, definiu-se o roteiro para fortalecer os alicerces da moeda única. A novidade de 2013 foi o acordo político para a criação de uma união bancária, com supervisão a cargo do Banco Central Europeu e mecanismos comuns para lidar com falências de bancos.
e) Porquanto o impacto financeiro serão os juros mais altos, especialmente nos EUA, o que provocará choques em países mais dependentes de financiamento externo, sobretudo no mundo em desenvolvimento.
4. Assinale a opção em que o trecho preenche de forma coesa e coerente a lacuna do texto abaixo.
a) Isso porque, para os países avançados a recomendação continua sendo a de combinações políticas mais favoráveis a uma recuperação segura. Isso inclui um ajuste fiscal mais propício ao crescimento, com mais folga no início e maior aperto na fase final.
b) Apesar do cenário ainda muito ruim no mercado de trabalho, a maior parte da Europa ocidental começa a vencer a recessão e, pelas projeções disponíveis, deve continuar nesse rumo em 2014.
c) Inclui também muito cuidado no abandono gradual das políticas monetárias frouxas, dominantes nos últimos anos - recomendação válida para autoridades americanas e europeias, mas especialmente para as primeiras, neste momento.
d) Portanto, os Estados Unidos já começam a se mover na direção sugerida pelo FMI. Depois de um longo impasse, a Câmara de Representantes aprovou uma proposta de orçamento com mais espaço para estímulos federais à reativação econômica.
e) Essa fórmula aprovada atende apenas em parte à pretensão do Executivo, mas é muito menos restritiva do que vinham defendendo as alas mais conservadoras do Partido Republicano americano. O próximo passo, a votação no Senado, deve ser facilitado pela maioria democrata.
5. Os trechos a seguir compõem um texto adaptado de http://www.portal2014.org.br/noticias, mas estão desordenados. Assinale nos parênteses a ordem correta em que devem aparecer para compor um texto coeso e coerente. Coloque 1 no trecho inicial e assim sucessivamente. Em seguida, assinale a opção correspondente.
( ) Para que o país possa cumprir esse objetivo, as autoridades trabalharão o plano turístico em três dimensões: infraestrutura, qualificação do pessoal de serviços e uma campanha de imagem.
( ) Em relação à infraestrutura, uma preocupação dos organizadores do Mundial, estão sendo feitos investimentos públicos e privados da ordem de R$ 10 bilhões na rede hoteleira e de R$ 5,6 bilhões na modernização e ampliação dos aeroportos.
( ) A Copa do Mundo e as Olimpíadas vão fortalecer o turismo e com isso o Brasil poderá alcançar resultados melhores na economia e nos negócios.
( ) O lema dessa campanha é "O Brasil te chama, celebre a vida aqui", e a intenção é reafirmar a imagem de que o Brasil é um país capaz de transformar um grande evento em uma grande festa.
( ) Na área de serviços, os recursos serão direcionados para qualificação de mão de obra, destacando-se o "Bem Receber Copa", programa que capacitará cerca de 300 mil trabalhadores do setor turístico a um custo de R$ 440 milhões.
( ) Finalmente, teremos uma estratégia de imagem por meio da qual vamos mostrar ao mundo que o Brasil oferece muitos produtos além de seu povo, já reconhecido como um fator atrativo, e de sua cultura, clima, praias e gastronomia.
a) 3, 4, 6, 5, 1, 2
b) 4, 5, 3, 2, 6, 1
c) 1, 6, 5, 4, 3, 2
d) 5, 1, 4, 3, 2, 6
e) 2, 3, 1, 6, 4, 5
6. Assinale a opção que corresponde a erro gramatical ou de grafia de palavra inserido na transcrição do texto.
A Receita Federal nem sempre teve esse (1) nome. Secretaria da Receita Federal é apenas a mais recente denominação da Administração Tributária Brasileira nestes cinco séculos de existência. Sua criação tornou-se (2) necessária para modernizar a máquina arrecadadora e fiscalizadora, bem como para promover uma maior integração entre o Fisco e os Contribuintes, facilitando o cumprimento expontâneo (3) das obrigações tributárias e a solução dos eventuais problemas, bem como o acesso às (4) informações pessoais privativas de interesse de cada cidadão. O surgimento da Secretaria da Receita Federal representou um significativo avanço na facilitação do cumprimento das obrigações tributárias, contribuindo para o aumento da arrecadação a partir (5) do final dos anos 60.
(Adaptado de <http://receita.fazenda.gov.br/srf/historico.htm>. Acesso em: 17 mar. 2014.)
a) (1)
b) (2)
c) (3)
d) (4)
e) (5)
7. Os trechos a seguir compõem um texto adaptado do jornal Estado de Minas, de 18/02/2014, mas estão desordenados.
Assinale nos parênteses a ordem sequencial correta em que devem aparecer para compor um texto coeso e coerente. Coloque 1 no trecho que deve iniciar o texto e assim sucessivamente. Em seguida, assinale a opção correspondente.
( ) Esse poder Legislativo é o mais apto a ouvir e repercutir a voz das ruas, os desejos e as preocupações do povo. E a segurança pública tem se tornado a maior de todas as causas que afligem as pessoas, principalmente as que vivem em grandes cidades.
( ) Nos últimos anos, com o crescimento do crime praticado por menores, tem crescido o número dos que defendem a redução da idade de responsabilidade penal para 16 anos. É igualmente veemente a defesa da manutenção da idade atual, 18 anos, o que torna a matéria altamente polêmica.
( ) Ter a iniciativa de propor e votar leis é uma das funções que a sociedade, por meio da Constituição, atribuiu ao Legislativo e espera que esse poder, o mais aberto e democrático do regime democrático, cumpra esse papel.
( ) Mas todo esse aparato da segurança acionado em defesa do cidadão corre o risco de produzir resultados inferiores ao desejado em função de falhas ou de falta de atualização da legislação.
( ) Por isso mesmo são bem-vindas medidas como o reforço do policiamento ostensivo e aumento da vigilância e da ação das autoridades para conter a criminalidade.
( ) Um dos problemas mais complexos quanto a essa atualização legislativa no Brasil É o do menor infrator, que, na maioria das grandes cidades brasileiras, já foi promovido a menor criminoso. Há sobre essa questão um grande debate na sociedade brasileira.
a) 1, 3, 6, 2, 5, 4
b) 2, 6, 1, 4, 3, 5
c) 4, 5, 2, 6, 1, 3
d) 3, 1, 4, 5, 6, 2
e) 5, 2, 3, 1, 4, 6
Nosso espaço
Já somos 6 bilhões, não contando o milhão e pouco que nasceu desde o começo desta frase. Se fosse um planeta bem administrado isto não assustaria tanto. Mas é, além de tudo, um lugar mal frequentado. Temos a fertilidade de coelhos e o caráter de chacais, que, como se sabe, são animais sem qualquer espírito de solidariedade. As megacidades, que um dia foram símbolos da felicidade bem distribuída que a ciência e a técnica nos trariam – um helicóptero em cada garagem e caloria sintética para todos, segundo as projeções futuristas de anos atrás –, se transformaram em representações da injustiça sem remédio, cidadelas de privilégio cercadas de miséria, uma réplica exata do mundo feudal, só que com monóxido de carbono.
Nosso futuro é a aglomeração urbana e as sociedades se dividem entre as que se preparam – conscientemente ou não – para um mundo desigual e apertado e as que confiam que as cidadelas resistirão às hordas sem espaço.
Os jornais ficaram mais estreitos para economizar papel, mas também porque diminui a área para expansão dos nossos cotovelos. Chegaremos ao tabloide radical, duas ou três colunas magras onde tudo terá de ser dito com concisão desesperada. Adeus advérbios de modo e frases longas, adeus frivolidades e divagações superficiais como esta. A tendência de tudo feito pelo homem é para a diminuição – dos telefones e computadores portáteis aos assentos na classe econômica. O próprio ser humano trata de perder volume, não por razões estéticas ou de saúde, mas para poder caber no mundo.
No Japão, onde muita gente convive há anos com pouco lugar, o espaço é sagrado. Surpreende a extensão dos jardins do palácio imperial no centro de Tóquio, uma cidade onde nem milionário costuma ter mais de dois quartos, o que dirá um quintal. É que o espaço é a suprema deferência japonesa. O imperador sacralizado é ele e sua imensa circunstância.
Já nos Estados Unidos, reverencia-se o espaço com o desperdício. Para entender os americanos você precisa entender a sua classificação de camas de acordo com o tamanho, tamanho rainha, para reis, e, era inevitável, do tamanho de jardins imperiais. É o espaço como suprema ostentação, pois – a não ser para orgias e piqueniques – nada é mais supérfluo do que espaço sobrando numa cama, exatamente o lugar onde não se vai a lugar algum.
Os americanos ainda não se deram conta de que, quando chegar o dia em que haverá chineses embaixo de todas as camas do mundo, quanto maior a cama, mais chineses.
VERÍSSIMO, Luis Fernando. (<www.sinprors.org.br/extraclasse/jun07/verissimo.asp>)
8. Apenas um dos elementos de coesão destacados NÃO retoma, no texto, um termo anunciado anteriormente. Aponte-o.
A) “Se fosse um planeta bem administrado ISTO não assustaria tanto.” (parágrafo 1)
B) “As megacidades, QUE um dia foram símbolos da felicidade bem distribuída que a ciência e a técnica nos trariam [...]” (parágrafo 1)
C) “Nosso futuro é a aglomeração urbana e as sociedades se dividem entre AS que se preparam – conscientemente ou não – para um mundo desigual [...]” (parágrafo 2)
D) “MAS é, além de tudo, um lugar mal frequentado.” (parágrafo 1) E) “[...] e AS que confiam que as cidadelas resistirão às hordas sem espaço.” (parágrafo 2)
09. Assinale a opção que preenche a lacuna do texto de forma a torná-lo gramaticalmente correto, coeso e coerente.
Normalmente o Estado de Direito é confundido com o Estado Constitucional (Estado Democrático de Direito), entretanto, isto é um equívoco.
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Com efeito, se é a legislação que serve de parâmetro para atuação estatal, então, esta mesma legislação, por conseguinte, é livre. Em tais Estados (Estado de Direito), o absolutismo do rei é substituído pelo absolutismo do parlamento (supremacia do parlamento e não da constituição).
(Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8873>. Acesso em: 17 mar. 2014.)
a) Conquanto, no Estado Constitucional, a constituição funciona como fundamento de validade de toda ordem jurídica, disciplinando não só a atuação do Executivo e Judiciário, como também do legislativo, vigendo, aí sim, a supremacia da constituição.
b) Embora, no Estado Constitucional, o legislador encontra limites jurídicos nas normas constitucionais, as quais traçam o perfil de cada exação, de forma que a competência tributária é delimitada através da conjugação das normas que tratam especificamente de cada tributo com os princípios constitucionais.
c) Daí podermos concluir que, no Brasil, por força de uma séria de disposições constitucionais, não há falar em poder tributário (incontrastável, absoluto), mas, tão somente, em competência tributária (regrada, disciplinada pelo Direito).
d) Isso porque no Estado de Direito os atos do Executivo e do Judiciário estão submetidos ao princípio da legalidade; contudo, o Legislativo é livre para atuar, já que esse princípio não pode ser aplicado, por imposição lógica, à legislação.
e) Portanto, poder tributário tinha a Assembléia Constituinte, que era soberana. Ela realmente tinha um poder ilimitado, inclusive em matéria tributária. Contudo, a partir do momento em que foi promulgada a Constituição, o Poder Tributário retornou ao povo, restando aos poderes constituídos as competências tributárias.
10. Assinale a opção que constitui um período gramaticalmente correto e textualmente coerente para ser inserido na lacuna do texto abaixo.
As leis de incentivo fiscal podem trazer bons resultados quando utilizadas de forma estratégica. Do ponto de vista do investidor social, a principal vantagem é conhecer o destino preciso de sua ajuda financeira. Temos em nossas práticas a preocupação necessária a todo o desenvolvimento social, em especial, da criança e do adolescente em situação de vulnerabilidade.
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Dessa forma, é importante que estes sejam destinados a entidades idôneas e de responsabilidade social.
(Adaptado de Raimundo P. S. Filho. <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8 873>. Acesso em: 19 mar. 2014.)
a) Assim é que os investidores, tanto empresas como cidadãos comuns, também sejam responsáveis por atividades que visem superar as situações de vulnerabilidade que criam.
b) Tais leis, quando seguidas e adequadamente fiscalizadas trazem além dessa também outras vantagens, como aquelas que o investidor se associa de forma estratégica.
c) Mas não basta apenas destinar recursos: é de extrema importância que as pessoas exerçam seu papel como cidadãs no acompanhamento da aplicação dos recursos e de seus resultados em suas comunidades.
d) Destarte, estratégias fiscais com objetivos claramente sociais, concretizados em ajuda financeira, compõem o conjunto de leis que de forma complementar combatem situações de vulnerabilidade.
e) No entanto, toda vulnerabilidade surge de desigualdades sociais que compete tanto ao Estado quanto à sociedade civil providenciar mecanismos de superação, sob pena de onerar ainda mais as perspectivas de futuro.
11. Assinale a opção em que a reescrita do trecho sublinhado preserva a correção gramatical e respeita a coerência textual.
Independentemente de sua inserção na esfera pública ou privada, as ouvidorias são norteadas por princípios comuns, ainda não regulamentados, destacando-se a acessibilidade, a confidencialidade, a independência e a transparência. Se efetivas, podem contribuir para a solução de alguns dos complexos problemas contemporâneos, muitas vezes gerados pela redução dos espaços de diálogo.
(Adaptado de Paulo Otto von Sperling. Ouvidorias, eficiência e efetivação de direitos. Correio Braziliense, 18 mar. 2014.)
a) Quando efetivas, a solução de alguns problemas, complexos e contemporâneos pode ser contribuída, quando gerados, muitas vezes, pela diminuição dos espaços de diálogo.
b) Efetivas, podem solucionar a contribuição de alguns dos problemas, complexos e contemporâneos, muitas vezes gerados no diálogo em reduzidos espaços.
c) Sendo efetivas, podem contribuir para solucionar alguns dos complexos problemas contemporâneos, gerados, muitas vezes, pela diminuição do diálogo.
d) Em sendo efetivas, alguns dos complexos problemas contemporâneos pode ter solução, muitas vezes gerados pelo reduzido espaço para diálogo.
e) Caso efetivas, a solução de alguns dos complexos problemas contemporâneos pode ser sua contribuição, gerados pela redução, muitas vezes, dos espaços de diálogo.
Desenredo
Do narrador seus ouvintes:
- Jó Joaquim, cliente, era quieto, respeitado, bom como o cheiro de cerveja. Tinha o para não ser célebre. Como elas quem pode, porém? Foi Adão dormir e Eva nascer. Chamando-se Livíria, Rivília ou Irlívia, a que, nesta observação, a Jó Joaquim apareceu.
Antes bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão. Aliás, casada.
Sorriram-se, viram-se. Era infinitamente maio e Jó Joaquim pegou o amor.
Enfim, entenderam-se. Voando o mais em ímpeto de nau tangida a vela e vento. Mas tendo tudo de ser secreto, claro, coberto de sete capas.
Porque o marido se fazia notório, na valentia com ciúme; e as aldeias são a alheia vigilância. Então ao rigor geral os dois se sujeitaram, conforme o clandestino amor em sua forma local, conforme o mundo é mundo. Todo abismo é navegável a barquinhos de papel.
Não se via quando e como se viam. Jó Joaquim, além disso, existindo só retraído, minuciosamente. Esperar é reconhecer-se incompleto. Dependiam eles de enorme milagre. O inebriado engano.
Até que deu-se o desmastreio. O trágico não vem a conta-gotas. Apanhara o marido a mulher: com outro, um terceiro... Sem mais cá nem mais lá, mediante revólver, assustou-a e matou-o. Diz-se, também, que a ferira, leviano modo.
[...]
Ela - longe - sempre ou ao máximo mais formosa, já sarada e sã. Ele exercitava-se a aguentar-se, nas defeituosas emoções. Enquanto, ora, as coisas amaduravam. Todo fim é impossível? Azarado fugitivo, e como à Providência praz, o marido faleceu, afogado ou de tifo. O tempo é engenhoso.
[...]
Sempre vem imprevisível o abominoso? Ou: os tempos se seguem e parafraseiam-se. Deu-se a entrada dos demônios. Da vez, Jó Joaquim foi quem a deparou, em péssima hora: traído e traidora. De amor não a matou, que não era para truz de tigre ou leão.
Expulsou-a apenas, apostrofando-se, como inédito poeta e homem. E viajou a mulher, a desconhecido destino.
Tudo aplaudiu e reprovou o povo, repartido. Pelo fato, Jó Joaquim sentiu-se histórico, quase criminoso, reincidente. Triste, pois que tão calado. Suas lágrimas corriam atrás dela, como formiguinhas brancas. Mas, no frágio da barca, de novo respeitado, quieto. Vá-se a camisa, que não o dela dentro. Era o seu um amor meditado, a prova de remorsos. Dedicou-se a endireitar-se.
[...]
Celebrava-a, ufanático, tendo-a por justa e averiguada, com convicção manifesta. Haja o absoluto amar- e qualquer causa se irrefuta.
Pois produziu efeito. Surtiu bem. Sumiram-se os pontos das reticências, o tempo secou o assunto. Total o transato desmanchava-se, a anterior evidência e seu nevoeiro. O real e válido, na árvore, é a reta que vai para cima. Todos já acreditavam. Jó Joaquim primeiro que todos.
Mesmo a mulher, até, por fim. Chegou-lhe lá a notícia, onde se achava, em ignota, defendida, perfeita distância. Soube-se nua e pura. Veio sem culpa. Voltou, com dengos e fofos de bandeira ao vento.
Três vezes passa perto da gente a felicidade. Jó Joaquim e Vilíria retomaram-se, e conviveram, convolados, o verdadeiro e melhor de sua útil vida.
E pôs-se a fábula em ata.
ROSA, João Guimarães. Tutameia - Terceiras estórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967,p.38-40.
Vocabulário:
Frágio: neologismo criado a partir de naufrágio,
Ufanático: neologismo: ufano+fanático.
12. O “Ou: os tempos se seguem e PARAFRASEIAM-SE." poderia ser explicado com o seguinte adágio popular:
a) “Cada um sabe o sapato onde aperta."
b) “Na natureza, no homem e na sociedade nada se cria, nada se transforma... tudo se repete."
c) “Não se faz uma omelete sem quebrar os ovos."
d) “Coração de homem é terra que ninguém mora."
e) “Formiga quando quer se perder cria asa."
13. As palavras destacadas em “a sua vida terminará no prazo IRREVOGÁVEL e IMPRORROGÁVEL de uma semana” podem ser substituídas, sem alteração do sentido assumido no contexto, respectivamente, por:
A) incontestável e inadiável.
B) indispensável e inexpugnável.
C) irrelevante e urgente.
D) imutável e impreterível.
E) anulável e protelável.
14. “A morte conhece tudo a nosso respeito, e talvez por ISSO seja triste.”
O uso da forma destacada do demonstrativo, no contexto, se justifica porque:
A) retoma elementos, que estão fora do texto, em situação de proximidade.
B) faz referência a elementos contextuais, externos ao texto.
C) é um elemento remissivo que faz referência anafórica a ideias já introduzidas no texto.
D) consiste na repetição da mesma palavra na progressão narrativa.
E) antecipa a ideia a ser apresentada posteriormente.
15. No período “Entre ir e vir, a carta não havia demorado mais que meia hora, PROVAVELMENTE muito menos”, o termo em destaque só teria prejuízo para o sentido original do texto, se fosse substituído por:
A) certamente.
B) seguramente.
C) supostamente.
D) possivelmente.
E) talvez
Inauguração da Avenida
[...]
Já lá se vão cinco dias. E ainda não houve aclamações, ainda não houve delírio. O choque foi rude demais. Acalma ainda não renasceu.
Mas o que há de mais interessante na vida dessa mó de povo que se está comprimindo e revoluteando na Avenida, entre a Prainha e o Boqueirão, é o tom das conversas, que o ouvido de um observador apanha aqui e ali, neste ou naquele grupo.
Não falo das conversas da gente culta, dos “doutores” que se julgam doutos. Falo das conversas do povo - do povo rude, que contempla e critica a arquitetura dos prédios: “Não gosto deste... Gosto mais daquele... Este é mais rico... Aquele tem mais arte... Este é pesado... Aquele é mais elegante...”.
Ainda nesta sexta-feira, à noite, entremeti-me num grupo e fiquei saboreando uma dessas discussões. Os conversadores, à luz rebrilhante do gás e da eletricidade, iam apontando os prédios: e - cousa consoladora - eu, que acompanhava com os ouvidos e com os olhos a discussão, nem uma só vez deixei de concordar com a opinião do grupo. Com um instintivo bom gosto subitamente nascido, como por um desses milagres a que os teólogos dão o nome de “mistérios da Graça revelada” - aquela simples e rude gente, que nunca vira palácios, que nunca recebera a noção mais rudimentar da arte da arquitetura, estava ali discernindo entre o bom e o mau, e discernindo com clarividência e precisão, separando o trigo do joio, e distinguindo do vidro ordinário o diamante puro.
É que o nosso povo - nascido e criado neste fecundo clima de calor e umidade, que tanto beneficia as plantas como os homens - tem uma inteligência nativa, exuberante e pronta, que é feita de sobressaltos e relâmpagos, e que apanha e fixa na confusão as ideias, como a placa sensibilizada de uma máquina fotográfica apanha e fixa, ao clarão instantâneo de uma faísca de luz oxídrica, todos os objetos mergulhados na penumbra de uma sala...
E, pela Avenida em fora, acotovelando outros grupos, fui pensando na revolução moral e intelectual que se vai operar na população, em virtude da reforma material da cidade.
A melhor educação é a que entra pelos olhos. Bastou que, deste solo coberto de baiucas e taperas, surgissem alguns palácios, para que imediatamente nas almas mais incultas brotasse de súbito a fina flor do bom gosto: olhos, que só haviam contemplado até então betesgas, compreenderam logo o que é a arquitetura. Que não será quando da velha cidade colonial, estupidamente conservada até agora como um pesadelo do passado, apenas restar a lembrança?
[...]
E quando cheguei ao Boqueirão do Passeio, voltei-me, e contemplei mais uma vez a Avenida, em toda sua gloriosa e luminosa extensão. [...]
Gazeta de Notícias - 19 nov.1905. Bilac, Olavo. Vossa Insolência: crônicas. São Paulo: Companhia de Letras, 1996, p. 264-267.
Vocabulário:
baiuca: local de última categoria, malfrequentado.
betesga: rua estreita, sem saída,
mó: do latim “mole” , multidão; grande quantidade,
revolutear: agitar-se em várias direções,
tapera: lugar malconservado e de mau aspecto
16. A crônica “Inauguração da avenida” é entremeada pela palavra povo. Sobre esse vocábulo, leia as afirmativas.
I Trata-se de uma generalização para representar todo brasileiro, atribuindo-lhe caráter de nacionalidade e referência identitária.
II. Nesse caso, o referente é a classe menos favorecida, que, na fala do cronista, encontra-se à margem das benesses sociais.
III. Refere-se à imagem plural da cidade, representando parte significativa da sociedade.
Está(ão) correta(s) somente a(s) afirmativa(s):
a) II e III
b) III
c) II
d) I e III
e) I e II
17. “É que o nosso povo - nascido e criado neste fecundo clima de calor e umidade, que tanto beneficia as plantas como os homens - tem uma inteligência nativa, exuberante e pronta...”
Sobre os componentes desse parágrafo 6 do texto, assinale a afirmativa correta.
a) As palavras NASCIDO E CRIADO estabelecem ideia de continuidade.
b) O primeiro QUE retoma, anaforicamente, a expressão NOSSO POVO.
c) COMO tem por antecedentes as palavras POVO e CLIMA.
d) nESTE se refere, cataforicamente, à palavra CLIMA.
e) A palavra TANTO é uma conjunção que intensifica a ideia de calor.
O jovem policial
Eu estava botando gasolina no tanque do meu carro e do meu lado
estavam dois carros da Brigada Militar. Dois policiais falavam com alguém do
posto. Um terceiro, bem junto da minha janela, de costas para mim, portava
uma arma grande, que na minha ignorância acho que poderia ser um fuzil ou
uma metralhadora. Estava ali, sozinho, e comecei a observá-lo sem que me
notasse. Tenso, alerta, consciente de sua missão, olhava para os lados
empunhando a sua arma com o cano voltado para baixo. Seu rosto era jovem,
tão jovem que me comovi. Podia ser meu filho. Mais: podia ser meu neto.
Estava tão concentrado no seu dever tão alerta na sua posição, que fiquei
imaginando se, ou quando ele poderia levar um tiro de algum bandido. Poderia
ficar lesado gravemente. Poderia morrer. Por mim, por você, por um de nós
em qualquer parte do Brasil, não importa que nome se dê a sua corporação,
nem se é da guarda estadual, municipal ou federal . Esses jovens se expõem
por nós. Morrem por nós. Tentam, num país tão confuso, proteger o cidadão. A
gente realmente pensa nisso? Uma vez ao dia, uma vez por semana, uma vez
ao mês?
[...]
(Lya Luft.Revista Veia, n° 2044, 23/01/2008. Fragmento.)
18. “Ao perguntar “A gente realmente pensa NISSO?”, a autora, por meio da forma pronominal destacada, refere-se:
a) a dois policiais que falavam com alguém do posto.
b) à tensão consciente, provocada pela missão dos jovens policiais.
c) ao fato de que os jovens policiais morrem por nós e tentam proteger o cidadão.
d) ao fato de um terceiro policial que estava bem junto da janela, de costas, portar uma arma grande.
e) à ideia de que aquele jovem poderia ser seu neto
Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou
para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde
esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um
véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia
que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa ia se
aproximando, como explicar a agitação íntima que me tomava? Como se enfim
o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as
ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como
se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta
em mim. Carnaval era meu, meu.
No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um
baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me
ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé da escada do sobrado onde
morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu
ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um
lança-perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever.
Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me
agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase
nada já me tornava uma menina feliz.
E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário
porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto
humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato
indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e
príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com
os mascarados, pois, era essencial para mim.
[...]
Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não
conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir
pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome
da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel
crepom cor-de-rosa, com as quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de
uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e
se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu
pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.
[...]
Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que
ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos
enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não
passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! chegaram três horas da tarde:
com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.
Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No
entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino
é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo
armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge – minha
mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa
e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo
vestida de rosa – mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que
cobriria minha tão exposta vida infantil – fui correndo, correndo, perplexa,
atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros
me espantava.
LISPECTOR, Clarice. . Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p.25-28
19) Sobre o texto é correto afirmar que a narradora começa a rememorar determinado carnaval no parágrafo:
A) 2.
B) 3.
C) 4.
D) 5.
E) 6.
20. Observe os fragmentos e leia as afirmativas a seguir.
1. Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância”
2. “Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.”
I. No trecho 1, a memória transporta a narradora do presente ao passado.
II. No trecho 2, a emoção transporta a narradora do presente em direção ao futuro e, depois, novamente em direção ao passado.
III. O elemento que organiza o tempo nesses fragmentos é o fluxo da memória e das sensações da narradora.
Está correto o que se afirma em:
A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) I e II, apenas.
D) I, II e III.
E) I e III, apenas.
Irmãos
– Mas agora vamos brincar de outra coisa.
Quero saber se o senhor é inteligente. Este quadro é concreto ou abstrato?
–Abstrato.
– Pois o senhor é burro. É concreto: fui eu que pintei, e pintei nele meus sentimentos e meus sentimentos são concretos.
– É, mas você não é todo concreto.
– Sou, sim!
– Não é! Você não é todo concreto, porque seu medo não é concreto.
Você não é completamente concreto, só um pouco.
– Eu sou um gênio e acho que tudo é concreto.
– Ah, eu não sabia que o senhor é um pintor famoso.
– Sou. Meu nome é Bergman. Maurício Bergman, sou sueco e sou um gênio. Nota-se pela
minha fisionomia. Olhe: eu sofro! Agora quero saber se o senhor entende de pintura. Aquele quadro é concreto?
– É, porque vê-se logo que é um mapa, pelas linhas.
– Ah, ééé? e aquele?
–Abstrato.
– Errado! Então aquele também tinha que ser concreto porque também tem linhas.
– Vou explicar ao senhor o que é concreto, é...
– ... está errado.
– Por quê?
– Porque eu não entendo. Quando eu não entendo, é porque você está errado. E agora quero saber: isto é compreto?
– O senhor quer dizer concreto.
– Não, é compreto mesmo. É porque sou um gênio e todo gênio tem que pelo menos inventar uma coisa. Eu inventei a palavra compreto. Música é compreta?
– Acho que é, porque a gente ouve, sente pelos ouvidos.
–Ah, mas o senhor não pode desenhar!
– O senhor acha que teto é concreto?
– É.
– Mas se eu virasse essa parede e botasse ela na posição do teto, ela ia ficar uma parede-teto e essa parede-teto ia ser concreto?
–Acho que talvez. Fantasma é concreto?
– Qual? o de lençóis?
– Não, o que existe.
– Bem... Bem, seria supostamente concreto.
– Mãe é concreto ou abstrato?
– Concreto, é claro, que burrice.
No quarto ao lado, a mãe parou de coser, ficou com as mãos imóveis no colo, inclinando um coração que batia todo concreto.
(LISPECTOR, Clarice. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.)
21. Com relação à crônica de Clarice Lispector é correto afirmar que:
A) apresenta o comportamento arredio de uma família que não consegue dialogar.
B) retrata uma cena doméstica de brincadeira de crianças, na qual uma delas resolve desafiar a outra.
C) estabelece uma discussão acadêmica sobre pintura concreta e abstrata.
D) permite descobrir consistências teóricas em torno dos conceitos de concreto e abstrato.
E) particulariza procedimentos de pesquisa, apresentando conceitos de concreto relacionados a linhas.
22. Analise as afirmativas a seguir.
I. O último parágrafo sugere que a mãe, cheia de amor pelos filhos, se emocionou com aquela cena em que os dois filhos brincavam de discutir.
II. Contextualmente, pode-se supor que a mãe seja mãe das duas crianças.
III. Os diálogos indiretos e ágeis permitem ao leitor visualizar a cena.
Está(ão) correta(s) somente a(s) afirmativa(s):
A) I
B) II
C) III
D) I e II
E) I e III